Meus espaços tem cheiros característicos. Meus sentimentos se afeiçoam a cheiros específicos. Não falo de perfumes. Falo de essência. Os mesmos cheiros que nos fazem lembrar tanto. Confundem-nos tanto. Cheiros de viagens. Cheiros de comidas. Cheiros de pessoas.
Eu aprendi a amar dessa forma. E aprendi com quem não amava. Com alguém de composição e essência que não recordo. Mas seu cheiro especifico eu jamais desejei guardar entre minhas fragrâncias psicológicas.
São tantas as sensações. As vezes certo desconforto. Quando as coisas se apegam também a essa instância do existir de alguém. Em um tecido. Uma foto. Um travesseiro. Ah, quando essas coisas insignificantes se agarram a esse cheiro que é tão particular, tão seu, que nem mesmo o outro sabe distinguir em sua própria essência. Quando só você e mais ninguém parece senti-lo. Longe ou perto. Esses cheiros que te abandonam. Que se deixam ser lavados. Que se destroem fácil com o cheiro de lavanda adocicado. E aqueles que impregnam seu cabelo por semanas, malditos sejam. Cigarros e cerveja.
Sinto que poderia contar todos os meus desejos somente descrevendo-lhes com esse sentido inexato. O olfato. Todos os meus amores. E também os meus pecados. Meus vícios mentolados. E meus medos fétidos. Como desejaria poder no entanto saber qual minha essência para você, saber que aroma meu corpo expira a cada palavra minha, a cada respiração. Saber no quê o oxigênio se transforma quando me aproximo de você.
Embora não consiga também dizer-lhe isso com exatidão. Se doce ou salgado. Se leve ou amargo. Seu cheiro no meu coração, nas minhas lembranças. Pois eu guardo ele até que se esvaia. Eu o absorvo até a exaustão. Tentando decifrar, também, como sempre consigo estocá-lo em minha mente cansada? Se todas as vezes que você se aproxima não sinto que o oxigênio se transforma. Sinto que ele falta sem precisão.