terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Voltei, para onde não sei...

Eu não quero saber. Eu me ouvi dizer. Estas palavras. Em minha mente. Tantas vezes escolhi estar ali. Tantas vezes achei que fosse necessária. E ao partir, percebi, não fazia falta alguma. Nem lá. Nem em mim. Quantas coisas, ou pessoas, ou lugares, podem existir sem a pretensão de existência. Sem a significação de importância. Aquela velha história da árvore que cai sem que ninguém esteja lá. Se ela faz barulho ou não. Se ela importa ou não. Se alguém sabe ou não. Tenho certeza que enquanto escrevo, milhares caem. Outras milhares são plantadas para serem derrubadas. Sem que a minha existência importe para elas. Para eles. Para todos. Se eu cair, alguém ouvirá o som que farei? Se eu decidir ficar de pé, importa a alguém? Onde estarei? O que farei? Realmente estou conectada com os outros bastardos que julgam viver vidas importantes, fazer coisas importantes que não importam a ninguém? Ou somente não importam a mim? Quando resolvi me desligar, não foi só uma decisão digital, não foi só uma temporada de estudos. Foi um apego. Apego as paredes que me envolvem, assim como a repulsa ao que há fora delas. Ao mesmo tempo que uma ânsia de lugares maiores se fez dentro de mim, nervosa, irritante. Uma ânsia, quase de vômito, quase fome, meio que os dois. Enquanto decidia que odeio viajar, e ao mesmo tempo odeio estar. Essa imparcialidade, múltipla de desejos, me fez perceber que me abandonei tempo demais. Decidi me afastar de mim, pelo simples fato de que conhecer-me me leva a loucura. Quase sempre. Mas a total reclusão, me afogando em outros interesses, em trabalho, em cansaço, em diversão me tornou confusa. Me tornou uma estranha. Uma estranha para os outros, que percebi nunca conheci. Não os conheço, eles não me conhecem. Eles não desejam a complexidade disso. Assim como eu sei, não desejo também conhecê-los. Uma estranha, para mim. Que sempre julgo estar a frente em ler os outros, pareço ter fechado minhas próprias páginas amareladas. E nelas agora, como se água, orvalho, chuva, liquido qualquer tenha se derramado, nada consigo ler. Decifrar. Não consigo decidir entre as oportunidades. Me vejo envolta no futuro. O futuro que julguei seguro. Que julguei perfeito, que em minhas mãos parecia encaixar-se. Eu o vi. Contemplei suas falhas e boa mobília. E desgostei-me disso. Senti novamente aquele desejo cauteloso que clama pelo sofrimento. Que clama por caos. Que clama por espaço. E silêncio. E afinal, decidi por distancia. Cada vez maior. Cada vez mais certa. Cada dia, mais intensa. Uma distancia sóbria. De consistência nenhuma. De objetivo nenhum. E essa distância, embora tediosa. Onde todos os lugares serão sempre os mesmos. Pois o problema sou eu, identifiquei. Essa distância monótona e sem objetividade, tem me mostrado, cada vez mais, que não faço falta. E que eu não desejo fazer parte. Ou terminar coisa qualquer. Eu seguirei. Até onde. Até quando. Não sei.

Super Poderes

Poder. Quantas crianças não sonham em ter um. Qualquer um. Ora essa, eu queria ter um. Voar, atravessar paredes, ficar invisível. Qualquer poder se arranjaria em possibilidades infinitas para qualquer um. Desde as mais ilegais para se tornar rapidamente rico ou mesmo ser apenas secretamente especial, poderoso. Ah, sim, todo mundo gostaria de ter um poder. Alguém colocou isso na nossa cabeça. Que somos todos muito comuns, parecidos, diferentes no entanto, mas bem, margeando a chatice dos mortais regulares. Mas deixe-me dizer, que a ânsia de ter um poder avança, cresce como o corpo, vai se metamorfoseando. Aos 5 anos de idade talvez eu quisesse realmente voar, me imaginava viajando entre as nuvens, confidenciando meu segredo apenas para alguns, pessoas muito especiais para mim, que chocadas me achariam um monstro, secretamente invejando minha habilidade. Aos 10 anos, já tinha se infiltrado em mim a ganância que acompanha as notas coloridas feita em papel insípido que chamamos de dinheiro, e veja bem, queria ter o poder de atravessar paredes e adentrar os cofres mais bem preenchidos com tais papéis. Aos 15 anos acho que desejei somente voar de novo, a vida era muito louca, mas acredito que desejava também ter o poder de ficar invisível, porque, bem, a vida era muito louca. Mas agora, em meus 21 anos de idade, o único poder que desejaria ter é o poder da Informação. Sim, o néctar do séc. XXI, A Informação. Vocês devem pensar “no século da informação, da internet, da liberdade de expressão, das redes sociais é claro que todos podem ter esse poder!”. Mas compreenda, isso é muito relativo. Eu tenho talvez a possibilidade de mergulhar na quantidade de informação que eu quiser, da teoria física das cordas até a última BBB fazendo sexo em rede nacional. Porém, por vezes, presencio a informação, como ela é, distorcida, moldada ao caráter de quem a passa, partidária, sensacionalista, religiosa, promíscua, tendenciosa e mal intencionada. Porque, veja bem, informação é poder. E quem possui esse poder o usa extremamente bem. Informação sempre moldou o que pensamos, como interpretamos o mundo, o que sentimos, como reagimos. E nesse século bombardeado por informação, até demais, ficamos confusos, perplexos, confinados na segurança de nossos perfis azulados esperando que alguém lhe entretenha com trivialidades. O mundo das informações é assustador para algumas pessoas, elas se perdem fácil. Não que sejam idiotas, ou incapazes de processar tais coisas, mas simplesmente, tornou-se tão vasto, tão fácil, tão alcançável que é enfadonho e desnorteador. Há informação demais, então filtramos o que nos interessa. Eu quero esse aí, esse poder de criar informação que interessa, que entretém, que educa, que se dissemina. Alguns anos atrás trabalhando em uma empresa ouvi algo interessante, um radialista falando mal da tal empresa em seu programa muito bem ouvido pelos adeptos de rádio. Bem, perguntei ao meu chefe se as coisas que o bom homem do rádio dizia eram verdades, e ele apenas me disse “Não, é que não o pagamos esse mês, é isso que eles fazem quando as empresas concorrentes o pagam.”. Fiquei chocada com isso. Jamais acreditei que tal esquema fosse empregado no mesmo, uma espécie de suborno em troca de elogios. Bom, que ingenuidade a minha, se não é essa a descrição perfeita da mídia, percebi a seguir. Sim, sim, eu queria ter o poder da Informação. Ser a Senhora da Informação, e onde eu visse meu querido poder sendo usado corruptamente eu daria um peteleco de vento e tcham! a informação voaria a todos os ouvidos. Mas não possuo tal poder, tenho um blog, um facebook, um twitter, ao invés. Mas acredito que aqueles que me acompanham preferem saber o que eu almocei do que o que eu realmente acho sobre as coisas. Claro, todo mundo acha bonito ter opinião. Estamos na moda dos politicamente corretos, com todo mundo meio que no meio do muro, nem discordando, nem concordando. Só lá, esperando que alguém mude de assunto. E enquanto isso, os Super Poderosos que tem o poder da Informação a manipulam como querem, distorcendo fatos, ignorando vozes, corrompendo justiça e distribuindo escândalos. E eu que achava que não era livre quando criança ao descobrir que não podia voar, hoje em dia tenho certeza, vivendo nessa bela ditadura disfarçada de democracia travestida de justa, onde sei que não sou livre porque não posso me expressar e ser realmente ouvida.