domingo, 6 de novembro de 2011

Queimem, pagãos!!

É inadmissível. Inconseqüente. Banal. Velha sem dentes.

Tormenta e despojos de guerra.

Batalhas sem terra.

Passos na areia.

Sombra e prelúdio da dança macabra.

Corpo Pintado.


Porque sempre é, inadmissível. Inconseqüente. Banal. Ser diferente, do que se prega e canta. Entoar deuses. Lutar por identidade. Julgar os júris. Perder a fé. A fé, que tem nome único e crenças imutáveis. Maleável aos dedos certos, incontestável em mãos erradas. Páginas e páginas, não entendo nada. E tudo elas dizem. O passado e o futuro. Tudo, eles disseram-me.
Desde os primeiros. Até amanhã. Onde os aviões caem. E pilhas de concreto caem esmagando aqueles, que são mais símbolo do que outrem. Descreve o mar que se tinge, e o mar que se separa. Torna vinho, desgosto, a água e as mágoas. Nem sempre nesta ordem exata.
Deveria eu acreditar no absurdo? Ouvir os mudos e crer em cegos? Calar-me? Diante ao que me é ensinado. Não basta ler. Não basta interpretar. Você deve obedecer. Esse é você. Quem você é. O que você vive. Sua carne e seu sangue. A carne dele, o sangue dele. Ritual. Ritos. Mitos. Lendas. O firmamento e as estrelas. Aonde adormecem os sonhos. E guerreiros tem seus pesadelos.
Não. Embora disseram aqueles mesclados a quem somos. Não, disseram eles. E morreram a dizer. Embora negassem, concordaram. Acredite no que acreditar, mas não me force a crer no que crês. Queimem! Queimem, pagãos! Ponha as mãos no fogo e jure. Jure! Você merece perdão nenhum. Dor qualquer. Sentimento nenhum. Seu pecado, alem de vir do outro lado, é ter pensado. Em mal algum. Em deus qualquer. Que não o meu. Aquele que invisível maneja. A mentira. O diabo. Ah, o seu pecado, é ter acreditado.

“Queimem!” Eles gritaram. E os demais, queimaram.

Intolerância religiosa é estúpido. Fé é mais do que crenças, é uma instancia do existir. É uma necessidade do ser, mesmo aqueles que crêem não crer, necessitam do nada, e do tudo que vêem, sentem. Respeite. Seja o que for, você não os entende, então os aceite, como eles aceitam você.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Far Away

Meus espaços tem cheiros característicos. Meus sentimentos se afeiçoam a cheiros específicos. Não falo de perfumes. Falo de essência. Os mesmos cheiros que nos fazem lembrar tanto. Confundem-nos tanto. Cheiros de viagens. Cheiros de comidas. Cheiros de pessoas.
Eu aprendi a amar dessa forma. E aprendi com quem não amava. Com alguém de composição e essência que não recordo. Mas seu cheiro especifico eu jamais desejei guardar entre minhas fragrâncias psicológicas.
São tantas as sensações. As vezes certo desconforto. Quando as coisas se apegam também a essa instância do existir de alguém. Em um tecido. Uma foto. Um travesseiro. Ah, quando essas coisas insignificantes se agarram a esse cheiro que é tão particular, tão seu, que nem mesmo o outro sabe distinguir em sua própria essência. Quando só você e mais ninguém parece senti-lo. Longe ou perto. Esses cheiros que te abandonam. Que se deixam ser lavados. Que se destroem fácil com o cheiro de lavanda adocicado. E aqueles que impregnam seu cabelo por semanas, malditos sejam. Cigarros e cerveja.
Sinto que poderia contar todos os meus desejos somente descrevendo-lhes com esse sentido inexato. O olfato. Todos os meus amores. E também os meus pecados. Meus vícios mentolados. E meus medos fétidos. Como desejaria poder no entanto saber qual minha essência para você, saber que aroma meu corpo expira a cada palavra minha, a cada respiração. Saber no quê o oxigênio se transforma quando me aproximo de você.
Embora não consiga também dizer-lhe isso com exatidão. Se doce ou salgado. Se leve ou amargo. Seu cheiro no meu coração, nas minhas lembranças. Pois eu guardo ele até que se esvaia. Eu o absorvo até a exaustão. Tentando decifrar, também, como sempre consigo estocá-lo em minha mente cansada? Se todas as vezes que você se aproxima não sinto que o oxigênio se transforma. Sinto que ele falta sem precisão.

sábado, 20 de agosto de 2011

Um texto sem eixo

Quando geralmente me sento para escrever o que acontece é isso: nada. Mas quando esse não é meu objetivo e o que eu realmente gostaria era dormir o que acontece é que as palavras acontecem me dando pouco tempo para alcançá-las. Embora pareça insano. É assim. E todos podem confirmar de seu próprio jeito que esse é um fato. A inspiração nos assalta o sono.
Eu tenho uma grande falha no meu estilo literário, e também na minha oratória. Embora muitos não o percebam ou pelo menos não me digam, isso já foi criticado, mas teimosamente não concerto ou simplesmente não consigo. Esse parágrafo é exatamente um bom exemplo da falha da qual descrevo. Eu não tenho foco. Começo com um pensamento e de repente outro surge, sem que eu resista descrevê-lo. Como faço agora.
Voltando ao primeiro tópico, se é que eu consigo, percebi outro dia que escrevo muito melhor quando não estou bem. E estudando um pouco isso percebo que todos os grandes artistas que já existiram produziram suas melhores obras em depressão, cativeiro ou melancolia, ou simplesmente bêbados. O ser humano produz o que há de mais belo quando está podre. No sentido triste da palavra, não fétido.
Tenho sentido muitas coisas. Porém a mais forte delas é nenhuma. Nada. Desmotivante por assim dizer. Eu sou feliz. Amo o que eu faço. Amo as pessoas que me rodeiam. Amo o lugar onde eu vivo. Amo a história que eu tenho. E a pessoa que ela me tornou. Amo meu dia. Amo a mim mesma, o que é um grande passo. E certas vezes por alguns instantes meu coração volta a bater. Porém tenho sentido vontade de simplesmente virar as costas e caminhar para lugar nenhum. Onde não hajam os mesmos rostos. E onde não hajam os mesmos cartazes. Esse lugar particularmente não existe porque qualquer lugar tornar-se-ia o mesmo do qual eu sai depois de um tempo. Então eu escrevo para que ninguém entenda, embora muitos vejam seus rostos nas palavras.
E novamente troquei o assunto. Outro defeito devo apontar. Eu sou egoísta. Eu descreveria muito bem qualquer outrem ou pelo menos acreditaria que o faria bem. Mas entorno e acabo voltando a mim. Bom, você faria o mesmo e o faz. Então ninguém pode me processar. Esse parágrafo novamente é um bom exemplo da falha apontada no mesmo. E retomo-o como exemplo também da auto-critica sobre falta de foco.
A questão é que egoísta e inspirada como estou tampouco consigo pensar que o que me falta na verdade é algo que resisto. O nada que sinto na verdade é algo que evito preencher. Eu os atraio e os afasto. Eu os encanto e os renego. E ainda me pergunto porque se foram. Logo a culpa de tudo na verdade não está em nenhum outro fator. Apenas eu. E o universo inteiro giraria entorno de mim nesse momento se isso não fosse tão cansativo.
É legal ser egoísta. É divertido ser resistente. É interessante ser fria. E é muito mais empolgante ser insana e como podem notar, eu sou. Aconselharia as coisas mais sensatas em outro momento e geralmente o faço. Logo, tampem seus ouvidos, o que não os impedirá de ler. Quem o fez é apenas um pouco mais tolo e deve se sentir bem agora. (: Espero tê-lo feito rir, ou pelo menos parecer idiota.

Eis o que aconselho. Mas não tentem isso em casa ou usem tesouras de ponta afiada.

Faça. E deixe de fazê-lo. Escolha, porém desista. Magoe. E finja que não se importa. Durma mais uma hora. Compre e depois jogue fora. Corra na direção errada. Roube uma placa de trânsito. Fale como quiser e não se corrija mentalmente. Ignore. Beba coca no café da manhã. Critique algo e o faça. Seja hipócrita. Trague. Fuja. Perca de propósito. Escreva seu próprio nome errado. Recomece. Minta. Minta de novo. Corrompa. Desacredite-se. Não confie. Use as roupas pelo avesso. Roube uma caneta. Cante musicas que não entende. Grite até sua garganta doer. Pise no pé de alguém de propósito. Negue um beijo. Tome banho de chuva com o celular no bolso. Não sinta compaixão. Não ajude. Queime. Seja irritante. Corte uma camiseta velha. Transforme uma lembrança em lixo. Atravesse a rua ao vê-lo. Aperte aqueles pelúcias irritantes que cantam. Durma em uma aula. Teime. Roube uma idéia. Levante uma sobrancelha. Ofenda. Machuque. Beba mais um copo. Seduza sem que realmente queira pra si. Dê um fora e continue a amizade. Lute sabendo que vai perder. Desarrume o cabelo. Ouça musicas no ultimo volume. Guarde dinheiro e o roube de si mesmo. Escreva mentiras para parecer legal. Tire fotos obscenas. Escolha cores que destoam. E jogue pipoca nos espectadores. Decepcione. Desminta. Mostre o dedo do meio. E misture as fichas em ordem alfabética. Disque o numero errado. Não ligue no dia seguinte. Não agradeça. Faça algo que considere errado. E escreva tudo isso sem se sentir culpado.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Morrer só é fácil para quem morre...

Eu não volto. Vocês já leram isso. Mas acho importante ressaltar que aqueles que assim decidem viver tem de se acostumar que as coisas voltam a acontecer novamente. Você cresce, e de repente é tolo de novo. Por outros motivos. Outras situações. Você escolhe, e machuca de novo. Pessoas diferentes. As vezes as mesmas pessoas. Você chora, as vezes pelos mesmos motivos. Por outros filmes. Pelas mesmas lembranças. Mesmos livros.
Acontece. Você escolhe ir para frente, e as vezes esbarra em uma pedra exatamente igual. E é quando você percebe que suas decisões, seu determinismo cego, suas malditas escolhas, só cabem a você. Eu decidi ir embora, uma vez, tantas vezes, e nem por isso os lugares deixaram de estar ali. A minha cama não deixou de estar arrumada esperando meu retorno, mesmo que não houvesse. Porque você decide ir, mas nada impede que as coisas continuem. Parece simples, mas aprendemos que todas as atitudes tem consequências, e que vamos viver com elas pro resto de nossas vidas. Mas certas coisas simplesmente ignoram nossos pulos de cabeça em cachoeiras profundas e continuam calmas. Apenas continuam.
Pode ser o mesmo momento de perceber que você é insignificante. Ou o momento de achar que é importante ao ponto de ser esperado. Você decidi partir, mas não impede que alguém continue te amando. E ao olhar para você mesmo, você percebe que mesmo seu corpo parou de mudar, embora você tenha decidido crescer, amadurecer, envelhecer, transformar-se. É mais o jeito como você o enfeita, veste, disfarça. Roupas sérias, roupas novas, maquiagens fortes, maquiagens novas.
Ah, sim, e percebe também coisas estúpidas, só pela simples satisfação de percebê-las, esmiuçá-las, sentir-se Sábio. Sentir-se burro. Sentir-se. Percebe que seu celular custa mais que um exame de saúde que você reclama em pagar. Percebe que os seres humanos cuidam mais das células mortas que tem, são unhas, cabelos, do que do corpo vivo, da pele, do coração. Percebe que um funeral bem arranjado custa o mesmo que um parto bem feito. Que ironia. Dívidas que fazemos ao chegar e partir, e que na verdade jamais pagamos. Como certas cicatrizes em outros rostos. No seu próprio. Em árvores. Muitos acreditam que sim, que aqui se faz e aqui se paga, mas não existem juízes e júris mais vadios que nós mesmos, que policiamos a vingança cósmica que se prevê, mas não fazemos nada para nos defendermos daquilo que nos machuca e sai impune.
E continuamos esperando que o destino maquine sua justiça, seu carma. E esperamos satisfeitos com nossa inocência, tencionando manter-nos ali, justos e perfeitos, desejando no íntimo poder sussurrar ao ouvido dos réus “é por isso que você está sofrendo”. Somos assim, por isso que não saímos impunes de nós mesmos, de nossos próprios erros, de nossas próprias escolhas. De ver por vezes coisas dolorosas se repetirem. De achar que é forte, mas diante da lápide ainda chorar como no enterro. De amar de novo, e perder novamente.
Acontece, quando você decide não voltar atrás. As coisas acontecem novamente, talvez, para que você experimente a sensação de que se você morrer, as coisas continuam. “Morrer só é fácil pra quem morre” me disseram certa vez quando desejei que fosse mais fácil, quando desejei descansar para sempre, e agora eu sei o significado disso, do fundo do meu coração, eu sei, e talvez o meu objetivo seja fazer com que isso signifique algo pra alguém também. Que eu possa sair, para jamais voltar, e que para mim sempre, sempre seja fácil, mas que eu possa deixar em quem fica, a sensação de que falta alguma coisa. De que as coisas continuam, mas há um espaço que será sempre meu, esperando alguém que nunca volta. Para que minha lápide não tenha flores de plástico encardidas, mas sim lágrimas como as que deixo para meu pai as vezes. Que não dizem que estou sofrendo, mas que sinto, e sempre vou sentir sua falta.

(Me preparando para o 1º Dia dos Pais, sem ele...)

domingo, 3 de julho de 2011

L'amour

Das vezes que fugi. E em todas as avenidas que pensei em viver. Nelas todas jamais morei. E em nenhuma delas vocês jamais estiveram nas vezes em que acordei em outro travesseiro. Meus amores. Jamais pensei que os possuiria. Se soubessem quantas vezes eu pensei. Em outras línguas. E quantas vezes escrevi. Na língua pátria. Que eu estava fadada. Fadada a amar e jamais ser amada.
No entanto ao abrir os olhos haviam outro par deles a me observar. Ternos. Cuidadosos. Sonolentos. E delicados. Mas jamais neles eu procurei eternidade. Eu sonhei com a eternidade. E semeei com as notas que me eram dadas, um lugar perfeito que fica longe. Nada árido ou desagradável. Inundado de vegetação agora, talvez. Assim como os sonhos que sempre findaram-se antes que eu colocasse os alicerces de sua construção pouco realizada. Mas muito planejada. Um lugar que era para dois. Um lugar, agora, para mim. Que não guarda nada. Nem lembranças. Assim como as coisas que me deram e que ainda guardo sem ressentimento ou mágoa. Apenas coisas. Significativas que tampouco me machucam em nada.
Nem mesmo nas músicas que escolhemos para nós e jamais chegamos a ouvir juntos. E nos desencontros nos quais eu perdi a hora. Em todos os momentos que não houveram por conta de meus atrasos. Por causa de minhas decisões. Por causa de meus descuidados. Em todos esses momentos inexatos de nenhum acontecimento em presente ou passado. Neles ainda existem nós dois, meu amor. Onde estive com você. Onde vivemos e rimos. Onde escondemos beijos que não trocamos. E desses momentos jamais lembramos. Pois assim como a casa torta onde chovem pétalas de jambeiro, jamais existirão.
Por mim continuaria assim. Onde não há o que lamentar. Somente os compromissos medonhos que tendem a machucar o que nos preocupa. E a eterna culpa por coisas que deixamos de fazer. Preenchendo a razão imprópria que pensamos ter. Calando as lágrimas vergonhosas de saudade que vocês, talvez, apenas talvez, derramaram. Elas jamais alimentarão meu ego como as palavras de amor que trovejaram tantos outros para mim. Aqueles que não me fizeram chorar ou correr. Aqueles sobre quem vocês jamais desejaram saber. Gostaria de saber porque, sempre, mesmo que me agrade, mesmo que me afaste, porque todos vocês supõem me possuir. A um ponto que machuca e envenena o espírito. Onde dói enquanto se imagina qualquer possibilidade. Quando eu lhes disse que eu vos pertencia jamais lhes disse que isso duraria. Os meus "para sempre" sempre se findam e não há surpresas ou festas. Apenas a coisa exata que eu sempre soube viver. O eternamente que se desfecha na mente e finda no coração.
Eu, que jamais supus ser amada assim, confesso, me surpreendo ter aprendido a partir. Para as mesmas avenidas que supus nas quais jamais viver. E quando nelas, lembrar dos momentos que não houveram. E preencher os pulmões com felicidade aparentemente de contemplação. Ah, sempre haverá o que troxeste para minha vida. E sempre serão os seus lábios nas sensações que meu corpo compara. As coisas boas e as coisas amargas. Todos os desejos não preenchidos e todos os medos contidos. Eu sempre serei sua. E você sempre será meu. Embora, eu, ao seu lado não esteja. Embora você me veja. E que eu possa ainda ser feliz apesar de suas maldições.
Apesar de tudo que não me feri e não me corta. Apesar das minhas medidas riscadas na porta. Apesar do que dizem elas, eu ainda estou crescendo. E isso me lembra vocês, meus amores perfeitos e irritantes. Constantemente me impulsionando à inconstância. Pois eu canso de ser quem sou e não volto a ser quem amavam. Mas a certa altura. Em certo ponto. Em certas partes do corpo. Em certos desencontros de novo. Em tudo isso eu sempre serei sua. Então não pensem que me perderam. Mesmo quando eu partir. Pois não me agrada em minha fértil e inútil imaginação, vê-los chorar. Meus amores. Os de agora e de antes. Os que virão. E todos os mais que jamais sonhei possuir ou amar. Todos vocês. Eu sempre vou amá-los em nossos para sempre, além do que é eterno.


Uma mistura das histórias de amor de alguns amigos e a minha própria. Espero que gostem. Amores marcantes que se findam.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Meus pés diminuíram

Meus pés diminuíram? Ou meus passos se estreitaram? Teria eu objetivos tão grandiosos e atitudes tão pequenas? Jamais tentei alcançar as coisas que desejei. Eu apenas as desejei para que tudo o mais fosse descartável? Para que as coisas que possuo não me tomassem para si? E para que eu não chorasse ao deixar qualquer parte minha em coração qualquer?
Eu sou má. Isso, já conclui. Não inteiramente devo acrescentar. Sou o que se pode chamar de comum. O que és. O que escondes. Meus certos e errados se confundem, mas eu me sinto esclarecida. Por mais que as vezes ache que a loucura margeia os pensamentos constantes que não consigo conter por inteiro. Todas as possibilidades. Exatamente, todas elas. As mesmas que me esclarecem enlouquecendo-me. Indo de encontro ao que é óbvio, ao mesmo tempo que percebo, as palavras me são bem vindas para descrevê-las, mesmo que a mente não seja suficientemente grande para mantê-las inconscientes. Onde não me incomodariam.
Por vezes acho que sei demais. Que descobri ao contrário. Que percebo o que deveria sentir. E sinto o que ninguém mais sente. Que minhas motivações e atitudes não se encaixam em qualquer um, mas que são inteiramente admiradas por quem não teria coragem do mesmo. Onde aqueles que as conhecem comigo, a vangloriam, e aqueles que apenas as conhecem, a repudiam.
Sim, eu me livrei das convenções. Não sem antes entende-las, aceitá-las, saber recitar todas elas, e saber a face que se faz a qualquer menção dos tabus. Esse é meu mal, entender afinal. Antes que seja dito. Pronunciado. Antes que se torne vivo ou tangível. Eu o tenho dito. A tendência do que sentem. O prelúdio do que antevêem. Eu sei o que o faz só. O que lhe faz chorar. Mesmo que por vezes você não tenha a sorte de fazer tamanha simples associação, e chore, então. Monet. Ah, os borrões!
Eu lhe direi boas palavras, que parecem fazer sentido. Eu lhe sussurrarei ao ouvido. E sim, por vezes, admito, vou amar. Mas quando o corpo e todas as conexões nervosas me são tão familiares, onde a mente apossou-se de qualquer figurativo emocional, eu lhe digo, não perdoarei. E não hesitarei em deixar nada para trás. Com os passos estreitos de quem não vai por completo. De quem fere, para saber que ainda pode voltar, mesmo que não intencione a tal.
Sim, a loucura e o mal. Por vezes desejaria que coubessem em descrições minhas. Não sou hipócrita devo aferir. Todos os rostos meus me pertencem por completo. E todos os sorrisos seus devotados a mim me satisfazem. Devo lembrá-los, de que mais que apenas um ser humano, já egoísta e mal talhado em nossa origem, sou também alguém que ambiciona conhecer os limites do poder que possuo. Poder nenhum. Poder qualquer. Aquele que montei para mim, após ser derrotada. Quando minha face deixou de doer depois da noite chorada. Aquele que a humilhação transformou em orgulho. E que agora possuo, querendo sempre mais e o nada.
Meus pés diminuíram. Mas meus passos não são para trás. Meu vocabulário cresceu mas minhas histórias não se tornaram mais floreadas. Eu amo. Eu sangro. Eu corto. Eu rio. Eu minto. Eu choro. Eu vivo. Eu mato. Eu não sou a coisa perfeita que já desejei ser diante de quem me olha. Ainda que alguns duvidem das palavras aqui citadas. Ainda que eu tenha caminhado passos para fora da sua mente fechada. Eu não caibo em seu mundo. Pois o meu tem o tamanho da minha mente. A mesma loucura intocada. A mesma que enlouquece os punhos que puxam os cabelos para que eu esqueça de pensar. A loucura que me convém. Que me afoga. Que escreve. Que provavelmente, também, irá me matar.

sábado, 25 de junho de 2011

E o que é que ela vê nele? Nossos amigos se interrogam sobre nossas escolhas, e nós fazemos o mesmo em relação às escolhas deles. O que é, caramba, que aquele Fulano tem de especial? E qual será o encanto secreto da Beltrana?
Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros.
Agora vou contar o que ele vê nela: ele vê, sim, que o corpo dela não é nem de longe parecido com o da Daniella Cicarelli, mas vê que ela tem uma coxa roliça e uma boca que sorri mais para um lado do que para o outro, e vê que ela, do jeito que é, preenche todas as suas carências do passado, e vê que ela precisa dele e isso o faz sentir importante, e vê que ela até hoje não aprendeu a fazer um rabo-de-cavalo decente, mas faz um cafuné que deveria ser patenteado, e vê que ela boceja só de pensar na palavra bocejo e que faz parecer que é sempre primavera, de tanto que gosta de flores em casa, e ele vê que ela é tão insegura quanto ele e é humana como todos, vê que ela é livre e poderia estar com qualquer outra pessoa, mas é ao seu lado que está, e vê que ela se preocupa quando ele chega tarde e não se preocupa se ele não diz que a ama de 10 em 10 minutos, e por isso ele a ama mesmo que ninguém entenda.

Martha Medeiros

(Achei esse texto muito interessante. Além de muito verdadeiro)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crônicas de nada


Há um vazio. Há uma bolha de ar entre dois lábios. E não há nenhuma sensação na barriga. E os pensamentos ocorrem. E não se perde o fôlego. E há o vazio. Mas a mente está cheia. Mas não há ninguém dentro dela. Mas ainda há um beijo.
“Eu dei o teu nome pra uma estrela e no outro dia eu a perdi”. E o universo é um vazio ínfimo próximo ao vazio no coração. E não há motivos pra se estar triste. A alegria tão pouco se manifesta. E contam-se os dias pra uma viagem. Pra uma nova vida. Ou um novo amor. Sempre haverão boas músicas pra quando há um vazio, ou uma inspiração. E os acordes contam a nossa história mesmo sem intenção.
Sempre haverão bons amigos com quem conversar. E sempre haverão coisas que não falaremos mesmo assim. E há um vazio porque não se quer pensar naquilo que não há ou haverá. Nem mesmo se sabe o que é, porque não há. Não mais. Mas os beijos podem significar mais para os outros lábios. Mesmo que não hajam palavras. E haja o vazio.
E despedem-se com piadas sarcásticas. As palavras mudam, mas os jogos são os mesmos. Quem joga os dados olhando nos olhos, ganha. Mas não sabe como jogar quando não há jogo. Mas sentimentos. E as neuroses tomam conta dos copos. E perdemos estrelas.
Dentro de muitos há um todo. Mas dentro de outros não há ninguém. Por que já houve um todo, que nem mesmo muitas coisas podem preencher. E escolhemos esquecer. Trabalhar. Ler. Assistir. Beijar. Escrever. Mas o vazio ainda está lá. E ele não sente os lábios se tocarem. Não há mãos tremulas. Apenas confiança. E nesse caso, ela não preenche ego, ou qualquer outra coisa. É um anexo do que se pode sentir. E quando se pode fazer algo maior, escolhemos o vazio.
O vazio não machuca. O vazio não nos traz lembranças ruins. Apenas existe. Ele nos deixa respirar. E não nos dá dor de cabeça. Muito menos nos irrita. O vazio é deprimente. Não nos alegra. Não nos traz lembranças felizes. Ele não nos tira o fôlego. Apenas não existe. É um vazio.
Querer preenchê-lo só o faz mais vazio. Se alimenta de cigarros, música, livros, dilemas alheios, copos translúcidos com líquidos azuis e ausência de palavras. É uma dor anestésica. Um sentimento insensível. E então ele nos esfria. O vazio se enche de significados que não significam-se. Somente para acalantarmos a idéia de que estamos ganhando um jogo que não existe. E nós o ganhamos. Mas na estante há um vazio onde o troféu deveria ocupar.
Mesmo estando preenchido agora, encare o fato de que um vazio pode existir. Não existindo. Porque quando não há tampouco se sente. Mas muito se pensa. Dê o nome de alguém a uma estrela e esqueça a qual. Ela ainda estará lá. Poucas palavras podem descrever o vazio quanto esta: “amei”.
Então ame. Porque não há nada mais cheio. Vale a pena sentir-se vazio sabendo que já esteve-se transbordando. Recomendo tomar o copo todo antes que a bebida esquente e você tenha que engoli-la com desgosto. Tome até a última gota. E mantenha o gosto nos lábios. Espere que alguma hora o garçom volte e preencha seu copo vazio. Se ele não voltar tenha em mente que a última dose é sempre a melhor. Sinta-se vazio somente quando compreender o significado de estar completo. O vazio não machuca então não há o que temer. O vazio não agrada então não há o que esperar. O vazio não nos faz gozar. O vazio apenas não existe. E não há.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um pouco do profano


Como se através de um plástico vermelho. Assim ela passara a ver. Sentir. Quando tocada por ele tudo o mais pareceria profano. E as coisas simples teriam significado escarlate. Através daquilo que não saberia definir como paixão ou amor. E por mais que ao se questionar voltasse a esclarecer-se que o amava. Todas as vezes que os lábios se encontrassem ela perderia a vontade de pensar a respeito. Seria bom, por vezes pensou, estar apaixonada e ao mesmo tempo sentir-se possuída pelo desejo que ele manifestava na mente vazia e culpada.
Era afrodisíaco e intenso. Como se cada parte do corpo dele fosse indiferente. Incompatível. Queimando onde tocava. Não deveria estar ali. Ele não deveria tocá-la onde tocava. As caricias eram pequenos pecados contidos e reservados. E onde não havia o toque o corpo estremecia desejoso de inveja pura. Esperando sua vez. Esperando as queimaduras lúgubres. E ansiando ser tocado, beijado, lambido.
Os cabelos pareceriam, antes, quando não havia a sina vermelha que envolvia agora sua visão, como óculos translúcidos de outra realidade, antes dessa paisagem quente e infernal em vermelho vivo que se tornara o mundo, os cabelos seriam parte descartável, células mortas que preenchiam um espaço simples. Mas agora, até mesmo eles pareciam aquecer-se esperando o toque. Esperando mãos nervosas que os embaraçassem, tentando arrancá-los impetuosamente. Trazendo anestesicamente dor. E prazer. Através do plástico vermelho que talvez cobrira antes algum chocolate com coco, mas agora estava a frente de seus olhos. Mostrando o mundo depravado que havia dentro dela mesma. E ainda havia o leve aroma de chocolate ao inalar o mundo quente. Com respirações nervosas e hálito aquecido.
As mãos, sempre nuas, seriam elas as partes mais profanas do tão estigmatizado corpo humano? Elas que cobrem o que se considera vergonhoso. Ao mesmo tempo que tocam tornando-o parte sua. Visitando estranhos pensamentos fantasiosos. Onde não estamos ali, e cada parte tocada, escondida, cada parte sua é a coisa mais indecente de quem se quer ser. Um ombro. A boca. As pernas. Os seios. Tudo. E qualquer coisa. Envolto na imaginação de seus estereótipos bem alimentados. Fazendo-a se transformar em seus ídolos enquanto ofegante diz coisas para que ele a queira como ela os quer, como gostaria que a quisessem. Para ser consumida. Tomada. Desgastada. Destruída. Sem respiração ou pulso. Sem pensamentos ou luto. Só o suspiro forte de quem não se importa. Abram-se as portas para o que não se quer e se deseja. Mesmo que inominável seja. Que tradição não haja. Não há gemidos ensaiados, nem mesmo o som desagradável da atuação exagerada. Apenas a vontade de conter-se para não gritar. A besta. O caos. Qualquer coisa que esclareça. Pois pecado, pensou ela antes de afogar-se, é não pecar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Leia enquanto eles ainda sorriem

Não importando quem você é. O Deus que você cultua. Ou o político que você apóia. Ao entrar no hospital infantil você se sente indignado com todos eles. Suas feições congelam. E você sabe o que é tristeza na verdade.
Dói muito perder um grande amor. Dói machucar alguém que te ama. Dói fracassar em algo que você podia ter feito melhor. Ter se esforçado mais. Mas dói muito mais se sentir impotente diante de um sistema todo de falhas humanas, corrupção e doença.
Eu sorria e brincava de super herói, mas queria chorar por não ter super poderes e não poder fazer nada mais que dizer que vai ficar tudo bem. E as crianças sorriem pra você. Porque são crianças. E espero que nunca cresçam para saber que vivem em um mundo quebrado. E esse mundo se quebra nos ossos mais fracos. Espero que não deixem de sorrir.
Você pode apoiar qualquer governo, pode defender qualquer ideal utópico que tenham entupido sua cabeça com campanhas coloridas e simbologias. Mas ao entrar em um hospital infantil você odeia a todos aqueles que já tiveram chance de mudar o mundo e dormiram tranquilos sobre travesseiros com penas de ganso. Mais ainda se você vai visitar alguém em especial. A dor só nos visita mais próximo ao coração quando não é no noticiário a situação.
Abram-se as portas de vidro para as casas luxuosas que saem na Caras, mas fechem-se as portas que nos levam a leitos mal-arrumados. Façam-se protestos por salários maiores e asfalto, mas deixem que as crianças sonhem enquanto dormem. Mesmo que elas sintam dor, elas sorriem. Mas aos poucos não vejo mais o brilho nos olhos delas. Querem ir pra casa. Qualquer lugar que não seja ali. Sentem calor. E dói esperar.
Faltam cores nos hospitais. Faltam contadores de historias. Mas acreditem, está cheio de pessoas frias que não querem saber seu nome e lhe enfiam agulhas. Se existe vida nessas pessoas, ao lavarem as mãos, a vida se esvai. E a vida se esvai das crianças. Elas não votam. Mas se votassem, não trocariam essa chance por telhas, nem que fossem de chocolate, ou por asfalto, nem se fosse de coca-cola, elas trocariam seu voto talvez pela chance de estar em casa agora. Poder brincar e subir mais de dez vezes naquela mesma arvore de onde caíram. Ou comer aquela moeda que parecia tão interessante. E poder ficar em casa. E tudo ficar bem. Por que aquele lugar frio torna-se-ia confortável no governo eleito pelas crianças.
Um hospital infantil é um dos poucos lugares do mundo cheio de crianças onde você não se sente feliz. Todas as crianças vão para o céu. Talvez por inveja disso esses hipócritas que elegemos as deixam em um inferno aqui.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sempre. Mesmo que eu não saiba quão longo isso significa.


Ela se preocupa demais. Seu coração palpita. E então está só. Afastou-os pela incerteza. Suas próprias tempestades molharam seus sonhos. E seu desejo de ter se tornou no medo de perder. E trêmula, chora. Ao fechar os olhos, nada ilumina a escuridão.
Ele disse, nada mais que palavras. E as palavras a ferem. Por mais que não tencionem. Ela é inconstante como o vento. E seu peito rasga de lamentos. Ainda sente algo. E ambos sabem. Os olhos se encontram. Apesar das palavras se esconderem. Os abraços demoram. Apesar dos encontros serem breves. E eles choram. Apesar de prometerem serem felizes.
Eu fui feita pra você. Pode até ser. Porém as peças queimaram-se, entortaram-se. Não mais se encaixam. Embora saibam, havia uma bela imagem a formar. E ele sussurra ao ouvido as palavras que ela mais ama e odeia. “Eu sempre vou te amar”. Embora ela o tenha ferido. Expulsado. Traído. Quebrado. Ele ainda está lá. E sempre vai estar.
Seus lábios abrem-se. Sua mente forma a frase. “Eu não te amo mais.”. Porém coração fala e a voz rouca diz mais do que um presente e menos do que uma promessa. “Eu também te amo”. E ela sabe que aquilo fere ao mesmo tempo que cura. Aquilo fecha a sepultura. Arrepia a alma e a segura. Porém… não há o medo de perder, pois não possuem um ao outro. Não mais. Não há a cobrança do previsível. Pois não há o compromisso. Apenas a certeza de que tudo era perfeito. E que ambos só poderiam estragar aquilo com o tempo.
Melhor deixar que viva. Perfeito e cálido. Melhor deixar que espere. Completo e egoísta. Ocupando onde é benquisto. Fechando-se diante do abismo. Beijando outros lábios. Jogando os jogos que os distraem. Cortando os laços que desamarram-se com facilidade. Amarrando outros de cores que não os satisfazem. Fingindo que o tempo não passa. Lembrando-se de como eram. Encontrando-se por acaso. Até que sejam vencidos pelo cansaço. E o estraguem sem descaso.
Porque não se trata de dar certo ou errado. E sim de um dia poder estar ao seu lado. Odiando e amando. Fazendo certo e errando. E ainda assim, amando. Mesmo não sendo amantes. Sem promessas ou datas previstas. Sem vestidos de revistas. Só o que eu sinto e o que você sente. Ninguém a frente. Um ao lado do outro. De mãos dadas. Com a vida formada. Porém escolhendo a estrada. E os cabelos soltos.

Eu sempre vou te amar. Eu sei.

segunda-feira, 30 de maio de 2011


Existem dois lados. Por mais que nos esforcemos para que as coisas pareçam justas. Existem sempre dois lados. Existem sempre escolhas que não queremos fazer. Existem sempre lados que desejam ser escolhidos. E nós encolhemos. Pois não podemos decidir. Toda decisão é árdua. E nada se pode ter sem que se tenha escolhido.
Não existem pessoas más ou pessoas boas. Existem pessoas. E existem escolhas. Por mais hipócritas que tenhamos de ser, ainda assim existem escolhas. Eu escolho o lado que me faz bem, e sou um lado que faz mal a alguém. Eu escolho ferir-me. E ainda assim alguém se machuca. E nos retraímos diante do que não conseguimos entender.
Por que todos os lados tem espinhos. E as paredes se fecham. É uma armadilha que tende a nos perseguir. As escolhas. O livre arbítrio e a liberdade ilusória que supomos ter não nos permitem voar, ou cair de um prédio de 20 andares e sobreviver. Porém existem aqueles que escolhem decidir. E decidem por si mesmos que tem razão. E as escolhas muitas das vezes são em vão.
Jogam-se do vigésimo andar ou viram pilotos de avião. Mais ainda assim sentem a vida vazia. Alguns antes mesmo de chegar ao chão. Porém, sem as escolhas, que pessoas poderíamos definir como nós mesmos? Que caminho teríamos ao olhar para trás? E de que pessoas recordaríamos ao fechar os olhos?
Existe algo que se aprende nas escolhas que fazemos, e muitas das vezes não está no que escolhemos, e sim naquilo que deixamos de escolher. Existem sacrifícios. E bens-materiais não significam cores ou dinheiro, mas muitas vezes horas em que você escolheu trabalhar ao invés de estar com quem queria estar, somente para agradá-lo com aquilo que conseguiu quando estiverem juntos. Até que um dia você escolhe não estar, somente para ter. E então você se perdeu.
Muitas das escolhas que fazemos nem mesmo passam percebidas ao abrirmos os olhos pela manhã. Mas a todo tempo escolhemos. E no final das contas existem dois lados convexos que nos refletem em diferentes planos a partir dali. E muitos lados continuam a nos definir. Ambigüidades a parte, você mesmo é dois lados do que poderia ser. E se reparte em zigotos de você mesmo na mente das pessoas. Você nunca é o seu próprio “você” nem mesmo a sós consigo mesmo. E muitas das vezes você não é um lado bom a se escolher. E você não se escolhe tantas outras vezes quanto poderia estar certo fazendo-o.
Ao seu lado talvez não existam dois lados a se escolher, mas apenas um. Um lado, uma escolha. E você escolhe esconder-se porque prefere escolher do que ter certeza. A vida é simplória e sagaz. Ela nos enlouquece, envaidece, desanime e nos esquece, até que não se saiba mais.
E por mais que eu me esforce. Sempre houveram dois lados. Dois lados para onde ir. Bifurcações secundárias seriam outros dois lados a se pensar. “Por mais longe que se tenha ido no caminho errado, volte.” Algum livro infantil disse-me isso certa vez. Mas uma coisa que os livros sempre dizem é “o que fazer!”e não “como diabos eu sei que esse é o caminho errado?”
Mas provavelmente isso era apenas um aviso subliminar para não colocar a mão no fogo, ou usar tesouras de ponta afiada. Por que desde sempre aprendemos o que é certo e errado. Mas mesmo assim, muitas vezes não conseguimos distinguir. E nos cortamos, e nos queimamos e escolhemos isso sem hesitar. Algumas vezes sabemos o que iria acontecer. Mas muitas vezes vale a pena arriscar para saber se a vida é assim mesmo tão previsível quanto tenta parecer não ser. Queremos cortes mais profundos, e chamas mais intensas. Até onde suportamos a dor?
Existem estudos de que um ser humano tende a sentir dor até certo ponto, e então não sente-se mais nada. Talvez alguns considerem isso um bom estado de espírito para se estar. Testar nosso limites nos faz mais fortes. E livros registram o quão estúpidos e impressionantes podemos ser no menor espaço de tempo que pudermos. E vendem-se copias. E existem ainda dois lados.

Eu escolhi sentir o máximo de coisas até dormir sem sonhar. Eu escolhi fazer coisas estúpidas até rir de mim mesma. Eu escolhi ser feliz embora não consiga definir como se faz. Mas poderia citar claramente que haviam dois lados. E um deles ainda esta lá.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Valores substituíveis

Ciúme. Corrupção. Medo. Repulsa. Nojo. Fracasso. Decepção. Depressão… Fico pensando como foi que nomearam todas essas coisas indefiníveis. E como muitas vezes elas podem descrever coisas inomináveis.
O ser humano é podridão que floresce. E ainda se orgulha de “ser-se”. Mas acho que “ser-se” é neologismo barato. Estamos tampouco preocupados com o que ocorre e como podemos fazer para ajudar. Estamos mais preocupados em como estamos parecendo. O que parecemos pensar. Que pose se encaixaria melhor em seu perfil azulado. E quais escolhas seriam as sensatas a se tomar quando questionado.
Não levantamos uma pedra se podermos contorná-la. E quando o fazemos achamos vermes. Mas na verdade é um espelho. E como os seres humanos adoram espelhos. A roda que se f*da, o espelho foi a maior invenção humana. Nem mesmo precisam da água para refletir-se, que joguem-se barris de petróleo na água. Posso me ver claramente. Como narciso teria sorte apaixonando-se por si em um espelho. Seria algum ator ou serviria alimentos insípidos em algum lugar qualquer. Mas estaria bem.
Estamos tão acomodados a sujeira que nos envolve que não sabemos dizer se ela está ali ou se materializamo-nos nela. É sempre uma possibilidade. E compramos perfumes caros. E sonegamos impostos mal-roubados. Assistimos apáticos mortes verdadeiras mas empolgamo-nos com cenas de ação. Compramos na promoção coisas com preços absurdos. E tornamos a vomitar valores que pregamos. Usamos camisetas irreverentes. Pagamos por nossos direitos. E mal podemos defendê-los sozinhos. E os códigos são codificados até mesmo para os alfabetizados. A cultura custa mais do que se pode pagar. E paga-se a conta de luz. As novelas findam-se para que recomecem com o mesmo enredo. Lançando aquilo que já foi desfilado. Vendendo aquilo que esta nas prateleiras enferrujadas.
Eu sou parte disso embora isso não faça parte de mim. Sou uma nota de Um real que nunca mais vi. Um valor que existe, que porém é substituível e dispensável. Valorizado e ignorado. Esquecido em algum bolso. Caído em algum lugar. Não podendo ser trocado por mais que alguns doces insignificantes. Mas há quem adore doces. E coisas que valham menos.

Prefiro manter meus valores do que apodrecer entre moedas de metal frio.

O ser humano, renegando sua instintividade. Vive como matilha. Resguardam-se como ovelhas. E dormem como filhotes. Ambiciosos com os olhos abertos. E desejosos quando fechados. Embora sentindo-se espertos, matam-se sufocados.
No curto suspiro que se observam. Delegam-se objetivos e objetos. Vestindo roupas que os apertam. Julgando aqueles que não se adéquam. Comprando carros que os distinguem. Entupindo ruas que os afastam. Vendendo almas que não possuem. E alugando espaços que não os pertencem. Em um mundo que habitam enquanto o ignoram. Fugindo de olhares que procuram. Inventando abajures. Pois ainda tem medo do escuro.
Solucionando problemas matemáticos. Somando notas que não acabam. Derrubando riquezas verticais. Enquanto os gráficos delatarem “MAIS”. Tornando-os mais ricos. Lotando os abrigos que não os confortam. Abraçando causas que não suportam. Vestindo palavras que não acreditam. Votando em homens que não confiam. Apertando mãos. Enquanto os pés preparam-se. Até que seja dada a rasteira sem que se marque a falta. Espanando a poeira. Sorrindo inabaláveis. Visualizando preços instáveis. Pagando mulheres que os satisfazem. Por preços lamentáveis.
Bebendo ácidos que os corroem. Corrompendo laços que os constroem. Sentindo gostos que se abstraem. Pensando em números. Assistindo a jornais que não os abalam. Fazendo sexo pensando no seu orgasmo. Mandando flores pelo significado. Não por sua beleza. Deixando comida na mesa. Jogando cigarros no chão. Deixando os sonhos sem dormir. Simplesmente pra conseguir. Estando tão perto. Eis o que temos aqui. O ser humano finda-se. Antes de usufruir.
Deixando qualquer coisa que tenha sido. Descrito no que significava. Não sabendo ele o que o representava. Se um filho da pu#% ou pai amado. Somente pelo descuidado de não estar presente e ter enviado presentes. Não podendo arrepender-se. Ou testar-se. Recomeçando de onde parasse. Fazendo o mesmo. Mesmo que tentasse. Apenas mais humano. E mais errado. Começando pelo pecado. De talvez, nunca ter amado.



Nem a si. Ou seus objetivos. Por que uma vez tocado pelo sucesso qual seria a sensação vazia de não poder compartilhá-lo? Quantos seriam os dígitos que o satisfariam? Nunca imprimiremos dinheiro suficiente para satisfazermo-nos. Nunca nos amaremos o suficiente para dele nos desfazermos. Nos o possuímos enquanto somos possuídos. Assim como todas as coisas que não deixaríamos para trás. As pessoas pelo contrario, fazem a escolha de vir ou não conosco. Eu não as abandonaria tão fácil nem mesmo por um pedaço de papel gélido e colorido. Ele se desbotaria em minhas mãos. Assim como me desboto no mundo.

Tudo depende do lado que você observa.


Eu não sou nada. Suas mãos me atravessam. Eu sou invisível. Nada transparente. Opaca. Através de mim. Talvez um mundo melhor. Mas dentro. Nada pior. Vidraça. Trincada nos cantos. Polida até brilhar. Não sustentando qualquer peso. Atravessada por uma paisagem que não me pertence. O mundo é belo. Só isso que posso dizer. Mostrá-lo. Escuro ou claro. Ele ainda está lá. Através de mim. Eu não o represento ou o aprisiono. Ilusão seria acreditar que o protegeria dele sem quebrar.
Se tornasse a pensar como seria. Quem sabe, desejando o contrário… O que se realizaria? Uma terceira opção que não me agrada. E sempre existem lágrimas. Por mais que os pores-do-sol continuem a encenar. O dia sempre se finda. E eu só posso fazê-lo sorrir. O que mais eu poderia fazer? Dizer-lhe que todas as coisas se realizarão? Que tudo será perfeito? Que pra todos os problemas tem jeito? Que não se sentirá só? Que não se magoará? Que não magoará ninguém?
Eu sou otimista. Não mentirosa. As coisas darão errado. É a tradição. Apesar dos sorrisos largos. Apesar do tempo escasso. Sempre há o fracasso. Mas sempre lhe resta a lição. De todas as coisas ruins. De todos os momentos tristes. De todas as páginas rasgadas. E em todas as despedidas. Sempre há o que fica. Há o retrovisor da vida. E a possibilidade de ir pela contra-mão. Na velocidade permitida. Ou não.
Você vai falhar inúmeras vezes. Você vai chorar por meses. Você vai se arrepender. Você vai escolher. E isso vai te rasgar. E ao se costurar, você vai sangrar. Mas por mais que ao olhar-se no espelho você veja retalhos. Eu vejo um confortável cobertor improvisado. Esse é o meu pecado. Ver o outro lado. Mesmo quando errado. Sendo ou não o combinado. Eu encontro um atrativo. Preferindo ser enganado pelo positivo. Eu simplesmente vejo o bom lado. E o abraço sem descaso.

Nem lembro ou esqueço. Apenas desvaneço.

As palavras não me tem sido bem-vindas recentemente. Por isso o abandono. Não que eu as tenha perdido. Apenas descobri meios de me distrair de minha própria existência. São affairs insubstanciais. Sentimentos colegiais. Outras histórias que não a minha. Outras vidas. Trabalhos acadêmicos. E uma certa exclusão particular.
Tanto tempo faz que não penso em mim. Sinto como se nem mesmo possuísse nenhum amigo. As palavras entre nós tornaram-se também superficiais. Momentâneas. Espontâneas. E alegres. Eu não tenho o que lhes confortar. Não mais. Nem mesmo sinto que preciso de conforto. E isso afasta.
Onde não há dor a se compartilhar talvez não haja intimidade. E eu me abstive de qualquer sentimento sobre o qual divagar. Não tendo o que lhes confidenciar. Sobra-me o cotidiano. Embora sejam surpresas. Um telefonema anônimo. Um tabu infantil. Um relacionamento corriqueiro. Embora aconteçam. Eu prefiro ler. E então desvaneço. Em minha própria vida.
Apesar de aparentemente deprimente a descrição, não há a tormenta que pressupõe-se. Nem mesmo tristeza afinal. Só momentos felizes. E o ignorar do que me afetaria. Só os dias calmos. E as noites em claro.
Nas horas que passo sozinha sinto que saí. Que nem mesmo eu me acompanho afinal. Que as coisas que me distraem subtraíram-me. Porém elas se findam Chegam à última página. Assim eu incessantemente procuro por outras. Outras palavras. Outras gravuras. Outras histórias. Que não a minha.
Eu nomearia como um vicio. Ou vadiagem enfim. Mas eu o abraço qualquer que seja sua definição. Aquilo que não me faz esquecer. Ou lembrar. Apenas acrescenta informação. Mais e mais palavras. Mesmo que elas não me contenham. Eu as tomo em meu cálice. Todos os sorrisos que me são dados. E toda a felicidade que eu posso proporcionar. Tudo isso sem que eu precise realmente pensar.
Deveras falso eu concluí que seja então, a seguinte declaração, que basta felicidade para se estar completo. Eu me abstive do que fosse incomodo e eis então que não mais me sinto vazia. Ou mesmo cheia. Apenas desinteressada.
Cabe a qualquer um então aquilo que tampouco me interessa: definir se isso é ruim ou bom. Assim como suponho tampouco preocupe qualquer um. Quando triste, o consolo. Mas quando feliz o que se deve fazer? Duvido que existam palavras que me consolem do que não sinto afinal.
Eis minha grande sina. Quando não se sabe o que se passa atrás do sorriso esnobe. Feri-se por dentro aquele que acredita. Inútil senti-se. Então afasta-se. Qualquer coisa que me pudesse ser dita, acabo por adverti-las de que não são bem vindas no final.
A melancolia dessas palavras porém contradizem o que elas dizem. Não sei dizer se a forma como serão lidas expressarão a lentidão com a qual foram escritas. Há tempos não me lia. Tanto mais eu não me via. É um esforço complacente forçar-me a dizer-lhes o quão desinteressante sou agora, Apesar de bem quista. Apesar de bem vista. Quase sempre acompanhada. Descendo alegremente escadas. Eu nunca fui tão sozinha e calma.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Pedaço de mim que de mim nada tem

Devo confessar. Estou perdidamente apaixonada!
Não tive como fugir desse amor avassalador que se instalou no meu coração e que promete ficar ali pra sempre.
Posso estar triste, estressada com os problemas do trabalho, cansada dos dias de batalha, não importa. Ele chega com um jeitinho manso e me tira o maior e mais lindo sorriso.
Ah, tô xonada por esse garoto... e em tão pouco tempo! Ele mal sabe quem sou e mesmo assim corresponde ao meu sentimento.
Menino lindo, encantador...amo seus olhos, seu sorriso, seu cheiro, sua bagunça, até seu choro. Tudo nele é perfeito!
Minha vida ganhou novo significado desde que ele chegou. Há 8 meses é ele, João Victor a razão de tanto amor.


Dedicado ao meu pequenino sobrinho.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Madrugada


Aqui está mal iluminado. A escuridão toma o aposento quase por completo. Há apenas um feixe de luz vindo da luminária de mesa a minha frente. Não tenho medo do escuro como antes. Nele aprendi a me camuflar. Me esconder. Não sei ao certo de que. Não me pergunte. Meu olhar vaga nessa escuridão em busca de algo inesperado, assim penso. Meus ouvidos estão atentos a qualquer ruído desta casa silenciosa. Já é tarde. Estou sem sono. Tentei me distrair inúmeras vezes mais nada do que fiz foi capaz de me manter "desligada" por muito tempo.
O barulho do relógio agora me incomoda. Na verdade o que incomoda é o passar do tempo. As horas parecem se arrastar numa velocidade alucinada. E eu continuo aqui. Na minha mente um turbilhão de pensamentos surgem numa fração de segundos e se dissipam em um piscar de olhos. Sinto medo. Sinto medo não do escuro ou desse silêncio que grita aos meus ouvidos. Sinto medo dos meus pensamentos traiçoeiros, enganadores. Que fazem eu me esforçar para descobrir quem sou, mais no final todas as tentativas são em vão.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Mais uma vez...lágrimas


Ontem mais uma vez a vi chorar. Saudade era o motivo. Me disse sem sequer falar uma palavra. Bastou o olhar. Eu também não lhe disse nada, como antes fazia. Do que adiantaria lhe dizer que isso um dia vai passar. Que essa dor será amenizada com o tempo, se nem mesmo eu acredito nisso?
Nos restou apenas o silêncio. Te puxei pela mão e te abracei. Apenas abracei. Isso foi o suficiente.
A vida é assim. Aprendi. Ela apenas segue o seu rumo sem se importar se nesse processo iremos sorrir ou chorar. Seu choro, sua dor são apenas a certeza de que não adianta levarmos um considerável tempo de nossas vidas nos preparando para a perda. A capacidade de aceitar a morte, principalmente, é algo que vai bem mais além da nossa vontade.

domingo, 3 de abril de 2011

Faça uma lista dos grandes amigos,
Quem você via há dez anos atrás...
Quantos você ainda vê todo dia?
Quantos você não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha,
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados para sempre...
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece,
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora...
Quantos mistérios que você sondava,
Quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
Era o melhor que havia em você?
Quantas mentiras você condenava,
Quantas você teve que cometer?
Quantas canções que você não cantava,
Hoje assobia pra sobreviver...
Quantos segredos que você guardava,
Hoje são bobos ninguém quer saber...
Quantas pessoas que você amava,
Hoje acredita e amam você?

(Grande Oswaldo Montenegro... =D)

sábado, 2 de abril de 2011

Pelo resto de nossas vidas...

Existem coisas pequenas e grandes,
coisas que levaremos para o resto de nossas vidas.
Talvez sejam poucas, quem sabe sejam muitas,
depende de cada um, depende da vida que cada um de nós levou.
Levaremos lembranças, coisas que sempre serão inesquecíveis para nós.
Coisas que nos marcaram, que mexeram com a nossa existência em algum instante.
Provavelmente iremos pela vida a fora colecionando essas coisas,
colocando em ordem de grandeza cada detalhe que nos foi importante,
cada momento que interferiu nos nossos dias, que deixou marcas.
Cada instante que foi cravado no nosso peito como uma tatuagem.
Marcas, isso... serão marcas. Umas mais profundas.
Outras superficiais, porém, com algum significado também.
Serão detalhes que guardaremos dentro de nós e que se contarmos para terceiros talvez não tenha a menor importância, pois só nós saberemos o quanto foi incrível vivê-los.
Poderá ser uma música, quem sabe um livro, talvez uma poesia,
uma carta, um e-mail, uma viagem, uma frase que alguém tenha nos dito num momento certo.
Poderá ser um raiar de sol, um buquê de flores que se recebeu, um cartão de natal,
uma palavra amiga num momento preciso.
Talvez venha a ser um sentimento que foi abandonado,
uma decepção, a perda de alguém querido,
um certo encontro casual, um desencontro proposital.
Quem sabe uma amizade incomparável, um sonho que foi alcançado após muita luta.
Um que deixou de existir por puro fracasso.
Pode ser simplesmente um instante, um olhar,
um sorriso, um perfume, um beijo.
Para o resto de nossas vidas levaremos pessoas guardadas dentro de nós.
Umas porque nos dedicaram um carinho enorme.
Outras porque foram o objeto do nosso amor.
Ainda outras por terem nos magoado profundamente,
quem sabe haverão algumas que deixarão marcas profundas por terem sido tão rápidas em nossas vidas e terem conseguido ainda assim plantar dentro de nós tanta coisa boa.
Lá na frente é que poderemos realmente saber a qualidade de vida que tivemos.
A quantidade de marcas que conseguimos carregar conosco.
E a riqueza que cada uma delas guardou dentro de si.
Bem, lá na frente é que poderemos avaliar do que exatamente foi feita a nossa vida.
Se de amor ou de rancor. Se de alegrias ou tristezas.
Se de vitórias ou derrotas. Se de ilusões ou realidades.
Pensem sempre que hoje é só o começo de tudo.
Que se houver algo errado ainda há tempo de ser mudado. E que o resto de nossas vidas de certa forma ainda está em nossas mãos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Um vazio que se chama saudade


Pode a luz trêmula desta vela iluminar a noite do mesmo modo que seu espírito ilumina minha alma?
Pai, você pode me ouvir?
Pai, você pode me enxergar?
Pai, você pode me ouvir na noite?
Pai, você está perto de mim?
Pai, você pode me ajudar a não ser tão assustada?
Olhando para o céu pareço ver um milhão de olhos.
Quais deles são os seus?
Onde está você agora que ontem veio, agora se foi e fechou as portas?
A noite é muito escura.
O vento é muito frio.
O mundo que enxergo é muito maior agora que estou sozinha.
Ajude-me a enfrentar o que vem pela frente.
Pai, você pode me ouvir rezando?
Qualquer coisa que eu diga mesmo que a noite esteja cheia de vozes?
Lembro-me de tudo o que me ensinou, cada gesto, cada palavra.
As árvores são muito altas e eu me sinto tão pequena.
A lua parece estar duas vezes mais solitária.
E as estrelas estão em parte, mais brilhantes.
Pai, como eu te amo.
Pai, como eu preciso de você.
Sinto falta dos seus beijos de boa noite.

Bagunça


Meu peito está sem forças. O coração está esmagado. Os braços sem movimento algum. Meus beijos sem sabor. Os olhos cinzentos. O toque sem calor. Ouvidos sussuros não ouvem mais. Tudo parou. Foi simplesmente você o causador de tamanho sofrimento. De tanta dor. Ilusão. Não consigo compreender. Desarrumaste tudo. Brincaste o quanto pôde. Fizeste uma real bagunça. Agora me questino, por quê? Por qual razão? Será que alguém já o fez sentir o mesmo um dia? Talvez.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Não há perdão

Sempre os mesmos passos. Aqueles que aprendi a não dar. Os que dão errado. Eu já vi. São os mesmo passos que tomaram por mim. Antes. Agora. Amar. Perder. Amar. Perder. Sempre os mesmos passo malditos. Nunca os mesmos pés. Nunca a mesma estrada. Mas sempre chegando ao nada. Onde eu tento esquecer os calos. Onde os beijos jamais foram dados. E onde eu jamais consigo dormir.
Eu sempre volto pra cá. Onde entendo tudo, e nada faço. Onde as coisas são tão claras, que se tornam suspeitas. Vindas de algum lugar sombrio dentro de cada um. Vivenciando o que lhes faz bem, no egoísmo que satisfazem-se ao acharem que são bons.
Talvez não me satisfaça que cada um tenha a sua vida independente de mim. Eu quero seu sangue. Sua mente. Quero que seus pensamentos sejam meus. Eu quero controlar seu humor, pra que você ria e chore, quando eu quiser. Quando meu tédio se dissipar por isso. Quando dependendo do que eu disser, você possa ser feliz ou não.
Por isso fechei minhas mãos. As fechei em volta de todos. Em volta dos pensamentos, das dores, dos problemas, das vidas. Todas em meus punhos. E a única coisa que inconseqüentemente me diverti em fazer, foi apertá-las ainda mais forte e com os punhos cerrados, dar um soco em cada face.
Uma de cada vez. Eu não te amo mais. Lento e forte. Vá embora! Com pouca precisão pois não havia receio em machucá-los, mas prezo meu próprio corpo. Eu não me importo com você! Eu coloquei meus méritos em cima de uma estante torta. Eu quero terminar… Eu coloquei minhas palavras em folhas brancas, não. Eu nem ao menos consigo escrevê-las com minhas próprias mãos. Não consigo lê-las em minha própria cabeça. Nada está claro. Apenas compreensível.
Não há quarto mais escuro do que seus próprios sonhos. Não há conforto maior do que descansar dos outros. Não há história melhor do que aquelas que ainda não li. As que jamais escrevi. Aquelas que não pensei e me surpreendem. Eu quero me assustar. Eu quero morrer e voltar. Eu quero comportar os medos que já possui e se foram. Eu quero respirar mais fundo, e beijar mais vezes. Eu quero quebrar os relógios e celulares. Quero dormir sem saber onde e acordar com quem amo. Dizer coisas horríveis, manter meu controle sobre ele, e saber que ainda me ama. Porque eu o amo. Eu amo todos vocês. Me vêem lágrimas que eu não sabia que tinha. E sentimentos que não reconheço mais. Desculpas, ainda margeiam as palavras que gostaria de dizer apesar de não expressarem o que você quer ouvir. Não há perdão.
Percebi o quão descartáveis somos. Uns para os outros. Quando se vai e o que se mantêm. Nada mais do que as ralas lembranças que aos poucos desvanecem ao tentarem ser lembradas. As mesmas estradas. O mesmo “Obrigada”. Sim, devo admitir, você não precisa de mim. E eu não preciso de você. Somos cada um. E você vai por onde quiser. Você sangrará só. Mas ao menos meus pés tem calos dos quais me orgulho quando calço seus sapatos. Não lamento tê-los deixado descalço. Eu não preciso de ninguém. Embora sinta sua falta. De todos vocês.
E por isso eu esqueço meus conceitos e meu orgulho. Que aceitei de mãos vazias. Percebendo que ele preenchia cada rosto que magoei, cada olhar de ressentimento que gerei. Cada magoa nossa. Me perdoe ser, mais do que qualquer coisa, humana. Não há culpa. Nem desavença. Não possuo crenças que me convençam de que tudo retorna até onde nada aconteceu. O que eu tenho é meu. E nada possuo. Suas palavras serão duras, e elas eu devo aceitar. De braços abertos. Com o sabor amargo que tiver. Você é quem é. Há coisas mais fáceis do que perdoar. E há coisas mais difíceis do que perder. Mas ainda assim, não peço desculpas, ou “com licença” para viver. Eu erro. Você erra. E a única coisa que me torna quem sou são os erros meus. Eu vou falhar. Com você. No Amor. Nos estudos. No trabalho. Eu sempre falho.
Mas eu tento compensar, sendo, tentando na verdade ser, alguém melhor. Um dia depois do outro. E tem dias que destruo quem sou. E tem dias que não quero ir. Tem dias que penso em ti, e nas conversas que não teremos. Porque as vezes as palavras machucam mais do que os fatos. Você merece coisa melhor. Alguém melhor. Que esse alguém seja você. Que não haja decepção por coisa qualquer. Meu desejo maior. Que ninguém jamais possa te machucar. E eu mesma o faço. Ah! Se não somos nós todos palhaços! Que você reconheça nos lábios. Nas palavras. Nos rostos, quem te ama de verdade. Você merece ser amada, exclusivamente. Você merece tudo, e nada. A escolha entre ambos. O poder de fechar os punhos e socar meu rosto. Se isso lhe fizer sentir-se melhor.
Espero que saiba, que as pessoas mudam, muito embora continuem sendo o lixo que são e amam em si. As pessoas crescem, algumas mais por fora do que por dentro. E você é uma das pessoas mais “altas” que já conheci. E outro dia percebi, que você tem o sorriso mais lindo do mundo. Que o jeito como ri levantando o rosto um pouco é a coisa mais meiga que já vi. Percebi que você deveria se amar mais que qualquer pessoa jamais poderia. Acho que não é assim. Mas ainda assim, eu te amo. E pela primeira vez, apesar de não depender disso, quero saber o que estar por vim. Obrigada. E embora eu não acredite no perdão, talvez você acredite, se ele lhe fizer bem, eu o peço a ti.

domingo, 27 de março de 2011

Quando é possível perdoar?


Esta semana enquanto ouvia as notícias matinais no rádio. Ouvi que será marcado para a próxima semana o julgamento do jovem Wellington Luis Raad, autor de uma das maiores chacinas da história do Estado do Amapá. E isso me fez refletir e instantaneamente questionar, será que em situações-limite como essas onde famílias inteiras são dizimadas, é possível esquecer e perdoar?
Próximo a completar um ano, a história da família que foi brutalmente assassinada em sua própria residência volta à tona. Caroline Camargo de 32 anos e os seus filhos Marcelo e Vitória Konishi, respectivamente com 19 e 11 anos, foram mortos a golpes de faca no dia 10 de Maio de 2010 em Macapá. O suspeito de ter cometido o crime era um amigo da família, Wellington Luis Raad Costa, de 19 anos. Depois de muitos exames periciais e especulações, ficou constatado quatro dias após o crime que as manchas de sangue encontradas nas paredes da casa pertenciam a Wellington, que somente após de um intenso interrogatório na presença de advogados, promotores e delegados, confessou que ele foi o autor do triplo homicídio. O caso da Família Konishi teve grande repercussão dentro e fora do Estado e até hoje ainda há uma incógnita a respeito de o que teria levado Wellington Raad a cometer tal atrocidade.
Outro caso que marcou a história policial de Macapá foi a chacina da Família Magave, ocorrida no interior do Estado a cerca de 15 anos atrás. Neste caso o motivo dos assassinatos foi a disputa por terras. Por se recusar a vender parte de suas terras a outro fazendeiro da região, Magave e toda a sua família tiveram suas vidas ceifadas.
Crimes bárbaros como esses me fazem pensar: Será possível esquecer e perdoar atos tão violentos como esses?
De fato, estamos vivendo numa época que podemos chamar de Era Homo Hostilis,onde o homem se tornou uma espécie de animal vicioso e hostil com uma caracterização particular e única que acaba se traduzindo por violência. E violência, assim como a traição por exemplo, parece que nunca é esquecida. Se o esquecimento não pode coexistir com a violência, será possível então haver perdão?
Pensamos o perdão como uma possibilidade de reconciliação, portanto ele não seria um esquecimento e sim, lembrança e se não é possível esquecer é difícil também perdoar. Logo, falar da possibilidade de esquecimento e de perdão diante de uma situação, como os casos da Família Konishi e da Família Magave, parece algo completamente paradoxal.

O tempo que não possuo


Por tantas vezes que eu tente descrevê-lo ele esvai-se por entre os dedos. O tempo, eu quero dizer. Sua inconstância marcial ritmada e a sonoridade que não possui. Acredito, nem mesmo os relógios conseguem contê-lo. A natureza em sua perfeição exagerada parece entendê-lo. Mas eu… Em minha extensa e curta vida, a mim parece que ele não deseja ser entendido, compreendido, tomado entre ponteiros acusadores, muito menos enclausurado dentro de calendários publicitários. Assim como eu, acredito, o tempo não deseja ser tomado por nada. Sua forma oblíqua que preenche até onde a essência não chega. Onde não há matéria. Somente o tempo.
Ele se manifesta. Em anos-luz. Até onde nossa infinita ignorância nos permiti enclausurá-lo em probabilidades. Tememos o tempo. Por isso ansiamos por controlá-lo.
Nosso desejo disforme entre a imortalidade e a vida plena. Nossas crenças pós-morte e nosso temor pela chegada da hora de testá-las. Nem somente o medo de tê-las errado. Assim como também a quase certeza do desapontamento se no final houver somente o nada. A ausência de consciência. Nenhum cosmo orgástico de prazeres além daquilo que se imagina. Nenhum descanso eterno na grande mão de qualquer divindade. Nenhum prelúdio de retorno. Somente o nada. Que não permitirá divagarmos pela contestação destas possibilidades inexatas. Sim, somente o nada.
É temeroso acreditar que o tempo possa nos tirar a vida. Até impensado talvez. A tanto se vêem pessoas que partem antes que o tempo lhe conceda últimos momentos de desprazer e despedidas constrangedoras.
A vida moderna traz consigo fatalidades muito mais assombrosas e desejadas do que o tempo e a hora certa da vida tomada. Ele morreu. Não, alguém o matou. Porque, me pergunto, não iria ele morrer afinal? Que grande falta de objetividade essa coisa mortal. É banal. Mesquinha. Ausente de moral provada. Com as coisas fingidas valendo socialmente mais do que qualquer verdade testada.
O tempo, em sua infinita liberdade e controle, domina acima dos pulsos aprisionados a essas algemas que chamamos de relógio. Impera em nossos corpos em sua ininterrupta marcha à morte. Alheio de sentimentos e interrupções. Se um arco torcido, uma elipse giratória, ou um ponto de existência, jamais ele se importa. As probabilidades a ele referentes tão insignificantes quanto os dias que clareiam e escurecem subordinados em sua grande majestade. Quem o nomeou assim talvez contendo-o em uma palavra tão curta tenha empregado o sarcasmo e seu desprazer ao grande senhor que nos rege. Blasfêmia ao lhe impregnar tal limitação.
Talvez por isso o tempo corra agora. Mais do que antes. Ofendido. Ele conta o agora, provando que nem mesmo isso nos pertence. Provocando-nos sempre que possível a escolher entre possibilidades que se esvaem sem retorno. Dizer “adeus” sem poder voltar para ver o que estaria no lugar de palavras contrarias. Dizendo “sim” e encontrando estradas incertas de pessoas que não sabemos ser, enquanto caminhamos ansiando olhar para trás somente mais uma vez antes de discorrer sobre os erros que isso nos levara a cometer. Abandonando pessoas. Abandonando espaços. Perturbando matilhas que não nos recepciona. Aborrecendo famílias. Escapando das trilhas.
Esses somos nós. Conseqüências do belo amor divorciado há anos atrás. Odiando o tempo mas desejando o amanhã. Marcando compromissos e entregando trabalhos atrasados. Desenhando paisagens e recordando fotos não tiradas. Compreendendo o mundo e desconhecendo-nos por completo.
A morte, tão temida e mistificada nada mais é para nós. Somente outra conseqüência. Outro ato ininterrupto da constante atuação do tempo e das certezas que declaramos tão incertos.
Eu não temo a morte, meus senhores. Sim, eu temo o tempo e seu sinônimo com mais letras em línguas esquecidas. Pois a imortalidade toca alguns. E suas palavras vagam entre estudos concentrados e citações presunçosas em conversas de bar. Mas o tempo não permiti que o corpo continue. Ele apodrece mais que a terra molhada das covas claustrofóbicas. Ele esvai o que se é e o que se sente. O tempo mal espera que você se concentre. Sua forma mesquinha pouco martirizada pelas formas circulares que marcam horas. Dias. Fases da lua. O tempo não me pertence e sem ele somente existe o nada. O eterno e pretensioso vazio da imortalidade. Pois o tempo é misericordioso ao tirar-nos de suas asas. Ele nos permiti esvair-nos e deitarmo-nos nas claustrofóbicas covas citadas.
O mundo através dos anos vem sendo destruído através de heranças mal gerenciadas. Imagine nós, seres imperfeitos, se fossemos também imortais. Parecemos a tanto tentando encontrar formas de nos matar mais. Explodir mais. Encerrar por outros. Estender àqueles que não nos pertencem a doce possibilidade que o tempo maestra com excelência.
Eu temo o tempo, por isso diante de sua tirania eu me submeto. Eu o subverto. Conto os dias ao contrario. Eu perco horas. Eu perco datas. Eu sacrifico o tempo que me falta. Escrevo palavras pútridas em suas costas largas. Eu odeio o tempo e sem ele não sou nada. Eu o aproveito deixando que se aproveite. Deixando que leve de mim o que eu amo. Deixando que leve quem me ama. Deixando que as coisas que amo em mim também sejam levadas.
O tempo ainda não me dera as marcas que o rosto e a pele possuirão. Mas por dentro o tempo sangrou-me cicatrizes que somente ele cura. Não mais largas ou profundas do que as suas. Jamais saberia compará-las. O tempo não me permitiria tal presunção. Mas marcas que sei nem mesmo com o tempo, sua misericórdia e seu desdém por meus planejamentos mal feitos, saberia curar até o esquecimento. Elas não sagram mais, devo dizer. Apenas deformam a beleza horrenda do puro ser que fui. Puro em maldade e egoísmo. Pois o tempo e sua lâmina impiedosa lapidaram o que sou. Me fazendo sangrar sem anestésicos no processo.
Mas se me perguntares se desejaria voltar atrás. Fazer de outra forma. Dizer outras coisas. Eu diria “Jamais”. O que sou é imperfeito, feio e egoísta, mas ainda assim é o que me contem. Meu diamante de sangue e pedra polida até doer. Essa sou eu, e o tempo, maldito e amaldiçoado, me fizera assim fazendo-me escolher. O que escolhi, senhores, embora tenha esquecido as exatas palavras ditas e as roupas usadas, foi algo que não me permito compartilhar. Talvez o tempo não permita. Eu vago em minha mente procurando a palavra certa mas ele me faz percorrer cadeias cíclicas de estranhas recordações. Digamos apenas que escolhi viver o escolhido sabendo que ferir e ser ferido faria parte do procedimento. Para mim. Para o tempo. Escolhi algo mais tedioso que o confinamento. Eu escolhi caçá-lo em momentos. Até que pudesse preenchê-lo todo com histórias minhas e as tomadas por mim dos demais. Eu percorro minha própria vida até que, tempo, eu não tenha mais.
Hoje aquela sensação de desconforto e imaturidade acabou por me atormentar, e quando procurei teus traços onde meus braços abrigavam um rosto adormecido, eu tampouco pude montar tuas feições. E quando delas recordei, a imagem inexata de como eras, acho que turva e inexpressiva, parecia dizer para mim que agora haviam lágrimas de lâmina cega. Ferindo o imenso orgulho que tanto afogaste por mim. Amontoando ódio que jamais imaginei, você, poderia possuir. Havia uma música estreita e nostálgica. Era a voz cálida que cantava alheia de sentimentos por você, palavras que nos descreveriam tão bem. Então, era por isso que você tanto chorava? Gostaria de saber se ainda há a conexão entre nossas almas. Se todos esses momentos repentinos de infelicidade instantânea não passam de mensagens tuas que você jamais se permitiria mandar se pudesse. Se soubesse o que sinto, e o quanto eu pressinto. Talvez assim você me fosse verdadeiro. Talve me permitisse acalantar a sua dor que ironicamente sou eu que causo. Talvez assim, eu o curasse como você me curou. Estando longe e irresoluto. Preparando-se no escuro do que você sonhou. Trancado nas paredes desbotadas onde fizemos amor. Eu espero jamais vê-lo como minha imaginação o pintou. Parece hipocrisia mas o alívio falso que sinto quando dizes estar ótimo, acaba por me convencer de que suas palavras nem sempre são mentiras sarcásticas que você se permite conter. E ainda assim, aquele momento de desprazer me fez por alguns instantes voltar, como antes, a amar você. Não o que eras, ou as coisas que fazia, ou mesmo sua voz. Mas sim aquilo tudo que sentia por ti e ainda sinto, aquele segundo coração que criei para que jamais saísse de mim por completo, levando o corpo, talvez, mas me deixando o espírito do que fomos.

sábado, 26 de março de 2011

Eu não sei dizer se o apaixonei por mim por capricho e, no entanto ele inocentemente me apaixonara. Ou se minhas inúmeras explicações chegarão a tocar a possibilidade ínfima que nos define. Tão diferente do que sou e quero e ainda assim perfeito quando o vejo. Ah, meu desejo de partir simplesmente tomando forma e se aproximando das despedidas. Até que eu o veja e o desejo se esvaia. E eu nem mesmo queira ir para casa. Quantos mundos paralelos nos separam meu amor? Além dos sons que te definem. Além dos passos que nos afastam. Além do medo e do receio nefasto. Quantas coisas em mim você ama? Serão todas elas “eu”? mesmo que não digas nada sentimental e profundo. mesmo que eu não saiba definir em ti o que apreciei tanto. Mais impressionante do que sentir algo que não se esperava nunca mais desfrutar, é essa sensação inconstante de coisa nova, de sonhos soltos,e grandes, grandes medos. A vontade de estar é tão grande quanto a de partir. Basta ter experimentado uma única vez o sentimento de deixar. Mas mesmo o medo de perder traz gostos doces à garganta seca. Mesmo com a perda. Melhor do que não amar, já dizia o poeta. E embora eu eventualmente o faça sofrer, ficando ou indo, que isso fique claro pois é quase certo que acontecerá, eu jamais poderia dizer que me arrependo. Nem dos beijos ternos ou dos abraços incertos ou mesmo os momentos confusos de conversas sérias. Ou o compromisso inesperado e os atos impensados de possíveis conseqüências importantíssimas. Não me arrependerei de ti.

A Cura

O impulso. Os medos que não possuímos. A vontade. O carnal. O mistério que o desconhecido proporciona. Os lugares que tampouco conheço ou me conhecem não importando se mudam ou se mudarei. E as palavras enferrujadas nas quais me aprisiono. Descobri, me libertei das convenções. E talvez seja tão egoísta quanto achei ter deixado de ser. Ou mais.
Eu não me importo com o futuro. Eu o planejo meticulosamente para que possa estraçalhá-lo com minhas inconseqüências banais. Eu disse a mim mesma, que arrependimentos não são tangíveis possibilidades de cura. E eu não me concerto com a culpa. Talvez não a sinta. Não sei dizer. São mais seus olhares que as sentem por mim, devo aferir. Notei a vida é curta, e mais importante que a brevidade, notei, ela é minha. Meu órgãos. Minhas mãos. Minha mente. Minha loucura.
Por vezes eu machucarei a todos. E posso me desculpar. Não me arrependo no entanto do que quer que os tenha feito sangrar. Sim, eu lhes disse, há mais no homem do que maldade pura. Mas há mais em mim do que a coisa certa e as palavras tortas que digo para os feridos. E para ninguém. Minha consciência tomou pra si as lições que ainda não vivi. E eu vi minha mãe sorrir e dizer que nunca mais amaria. Parece incerto que eu lhes diga, mas amei mais do que poderia gostar de admitir a ela. Eu perdi tanto quanto, em menos dias. Eu aprendi aquilo que me libertou tão cedo, cedo em demasia. E não me faltaram alegrias. Por mais que sinta, me faltaram lágrimas.
Há o que se faz e o que se diz. E em todas as vezes que eu me calar, dentro de mim nada vai gritar. Sim, eu sangro. Eu amo ainda. Mas não mais serei aquela coisa sua que não era minha. Aquilo que por alguém vivia. E por isso, eu lamento. Não por alguém, devo admitir. Embora eu os faça sorrir, e não queira vê-los sofrer. Eu lamento saber. Saber o quão de mim deixei de ser sem perceber. E o quanto isso me tornou quem sou. Lamento embora não me desagrade. Apaixonei-me pelo que posso. E o que tenho não me seduz tanto quanto. O coração e sua simbologia exagerada tomaram o devido lugar reservado na racionalidade exacerbada. E para cada movimento seu. Para cada palavra sua. Eu terei a resposta exata. E a motivação contrária.
Sim, egoísmo em sua máxima, mas o que poderia eu dizer nessas palavras minhas onde sou para mim o que sou dentro de mim, embora tampouco me conheça por completo? Eu não sou hipócrita. Idiota, talvez. Mas isso quem define são os mesmos olhos que tomam para si a culpa que não possuo. Que me tiram as desagradáveis palavras de consolo e desculpas ínfimas. O que não pode mudar. O que não pode deixar de ser feito. O que eu diria em todas as vezes que voltasse para me corrigir. Pois eis que há vida dentro de mim. E não há vazio ou situação socialmente abalável que me convença a regressar. Eu estou onde deveria estar. E todas as vezes que voltar a ver-me, saberei, não me desagrada o que fiz ou o que deixei. E mesmo que você sangre no processo, espero que aprenda, fácil ou arduamente, assim como aprendi, que a cura não está na culpa. No remorso. Nos destroços. Ou no arrependimento. A cura, só existe e há, dentro de si.

terça-feira, 22 de março de 2011

Seja Humano!


Quando lhe confrontarem dizendo coisas do tipo: ‘como é que uma pessoa como você se descontrola desse jeito a ponto de gritar e brigar, de mentir, de errar, de ter mais dúvidas do que certezas, de ser inseguro, de chorar e ser tantas vezes fraco?’ Não deixe barato não! Acrescente a dor da ressaca depois de um porre, diga que você só passou na faculdade porque colou no exame final; e aquela vez que você quis impressionar alguém e deu tudo errado; conte também que tem vergonha que descubram que você trocou aquele bar de jazz ao vivo, culto e chato, por uma boate de música ordinária; afirme também que as vezes mente, tenta parecer o que não é, que mostrou ter entendido a palestra sobre eticidade na qual dormiu após conferir a própria ignorância; não esqueça de se dizer contraditório, humano, perfeito e imperfeito, bom e mau, certo e errado; mostre que você ama e que pode odiar com a mesma intensidade; manifesta a sua raiva quando é magoado maldosamente; diga que pensa em vingança, em coisas medíocres como revanchismo. Seja, por favor, completamente HUMANO.

Contrários


Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar
Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo pra lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer
Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E que o ódio é uma forma tão estranha de amar
Que o perto tem distâncias
Que esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz
Só quem soube duvidar
Pôde enfim acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar
Quem no pouco encontrou
Aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar
Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor
Se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite
Que o amor pode nascer
Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E que o ódio é uma forma tão estranha de amar
Que o perto tem distâncias
Que esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz

“Amar não é desejar o próximo como a si mesmo. É fazer do amado o primeiro e de si o próximo”.

Ao ler essa frase de um poema pouco conhecido, questionei-me: Quantas vezes fazemos de nós o próximo e do amado o primeiro? Falo de todos os tipos de amor. Pense bem. Pensou? Chegou a alguma resposta plausível? Difícil não é? É, somente quando fazemos questionamentos como este é que percebemos o quanto o ser humano é egoísta. Queremos ser felizes, realizados, compreendidos, aceitos, amados. Viu só. É sempre essa via unilateral, é sempre o “Eu” em primeiro lugar, o outro é segundo plano. Calma, não se assuste e nem se condene, isso é normal ou pelo menos achamos que é. Doar-se ao outro verdadeiramente não é tarefa fácil. É preciso uma pré disposição de ambas as partes. Mais espera um pouco… você deve estar se perguntando ‘quem ela acha que é para falar isso de algo tão particular?’ Eu lhe respondo: não sou ninguém realmente. Não escrevo a verdade, tão pouco a tenho. Apenas expresso nestas linhas o que penso e a forma como eu penso. Quem entender essas palavras será sempre bem vindo a comentá-las, mas se você as considera apenas palavras sem sentido, bem com certeza não é para você que eu escrevo.

O Tempo da Paciência


Tempo… aliado nas grandes conquistas, aliado para aliviar grandes dores. Paciência… tens que tê-la para ter tudo que almeja. Neste tempo que tive aprendi a desenvolver a tal paciência, coisa que eu era totalmente desprovida! Lancei mão de um grande amor neste espaço, porque minha nova virtude chamada paciência esgotou. Vi que os fatos falavam mais alto do que minha razão. O amor, ah, o amor. Palavra pequena, mas para quem realmente sente há um grande teor. É um Eu te amo pra cá, um Eu te amo pra lá e você vai deixando a sua vida e sem perceber começa a viver aquela vida a dois. Esquece um pouco de você mesmo mas tudo bem, dizem que no amor e na guerra tudo vale a pena, não é? Neste momento, eu juntamente com minha alma e meu coração estamos em reconstrução. Reconstruindo conceitos de amor próprio, de como ver a vida. Meu amor por ter-se perdido e minha alma por ter-se doado, chora. Mas como dizia o sábio poeta: “Às vezes construímos grandes sonhos em cima de grandes pessoas, mais tarde descobrimos que grandes eram os sonhos e não as pessoas”. Pois bem, eis que está na hora de voltar a olhar para dentro, ver o que há escondido. Qualidades, sentimentos, virtudes antes abafados por um “não poder” ou talvez um “não querer”. Mas nada que eles, o tempo e a paciência não curem, não mudem. E disso venha a tona uma nova mulher mais forte ainda como jamais fui. Afinal, como disse o filósofo Friedrich Nietzsche: “O que não provoca minha morte me deixa mais forte”.

Sinceramente


Impossível acreditar que te perdi. A sensação de que a qualquer momento vou ver você chegar ainda toma conta de mim. Dói tanto não ter você por perto. Dói não ver o seu sorriso. Dói não ouvir o som da sua voz que apesar de fraca e rouca, soavam com uma força extrema alcançando meu coração. Dói não ver mais seus lindos olhos, ah e que olhos lindos você tinha. A cada minuto penso que posso te encontrar, mais basta um segundo para a realidade me passar uma rasteira me convencendo de que minha vontade não se concretizará. Ah! Como dói perder alguém que tanto amamos. Apesar de saber que o seu destino estava fadado quis acreditar e acreditei inúmeras vezes que poderíamos trair o destino e mudar o curso incerto da vida. Que ilusão! Hoje tenho que viver com a certeza de que não importa para onde eu fuja, para onde eu corra, não te encontrarei com os braços abertos e um sorriso no rosto a me esperar… mais sei que posso te sentir a me abraçar nos meus sonhos, nos meus pensamentos e no meu coração. Lugares estes que você sempre estará

Loucos e Santos


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.Tem que ter um brilho questionador e uma tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louca e santa. Deles não quero respostas, quero o meu avesso. Quero que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim e para isso, só sendo um louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta, principalmente por esta última. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Os quero metade infância e outra metade velhice! Sim, crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.