segunda-feira, 20 de junho de 2011

Leia enquanto eles ainda sorriem

Não importando quem você é. O Deus que você cultua. Ou o político que você apóia. Ao entrar no hospital infantil você se sente indignado com todos eles. Suas feições congelam. E você sabe o que é tristeza na verdade.
Dói muito perder um grande amor. Dói machucar alguém que te ama. Dói fracassar em algo que você podia ter feito melhor. Ter se esforçado mais. Mas dói muito mais se sentir impotente diante de um sistema todo de falhas humanas, corrupção e doença.
Eu sorria e brincava de super herói, mas queria chorar por não ter super poderes e não poder fazer nada mais que dizer que vai ficar tudo bem. E as crianças sorriem pra você. Porque são crianças. E espero que nunca cresçam para saber que vivem em um mundo quebrado. E esse mundo se quebra nos ossos mais fracos. Espero que não deixem de sorrir.
Você pode apoiar qualquer governo, pode defender qualquer ideal utópico que tenham entupido sua cabeça com campanhas coloridas e simbologias. Mas ao entrar em um hospital infantil você odeia a todos aqueles que já tiveram chance de mudar o mundo e dormiram tranquilos sobre travesseiros com penas de ganso. Mais ainda se você vai visitar alguém em especial. A dor só nos visita mais próximo ao coração quando não é no noticiário a situação.
Abram-se as portas de vidro para as casas luxuosas que saem na Caras, mas fechem-se as portas que nos levam a leitos mal-arrumados. Façam-se protestos por salários maiores e asfalto, mas deixem que as crianças sonhem enquanto dormem. Mesmo que elas sintam dor, elas sorriem. Mas aos poucos não vejo mais o brilho nos olhos delas. Querem ir pra casa. Qualquer lugar que não seja ali. Sentem calor. E dói esperar.
Faltam cores nos hospitais. Faltam contadores de historias. Mas acreditem, está cheio de pessoas frias que não querem saber seu nome e lhe enfiam agulhas. Se existe vida nessas pessoas, ao lavarem as mãos, a vida se esvai. E a vida se esvai das crianças. Elas não votam. Mas se votassem, não trocariam essa chance por telhas, nem que fossem de chocolate, ou por asfalto, nem se fosse de coca-cola, elas trocariam seu voto talvez pela chance de estar em casa agora. Poder brincar e subir mais de dez vezes naquela mesma arvore de onde caíram. Ou comer aquela moeda que parecia tão interessante. E poder ficar em casa. E tudo ficar bem. Por que aquele lugar frio torna-se-ia confortável no governo eleito pelas crianças.
Um hospital infantil é um dos poucos lugares do mundo cheio de crianças onde você não se sente feliz. Todas as crianças vão para o céu. Talvez por inveja disso esses hipócritas que elegemos as deixam em um inferno aqui.

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