sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Morrer só é fácil para quem morre...

Eu não volto. Vocês já leram isso. Mas acho importante ressaltar que aqueles que assim decidem viver tem de se acostumar que as coisas voltam a acontecer novamente. Você cresce, e de repente é tolo de novo. Por outros motivos. Outras situações. Você escolhe, e machuca de novo. Pessoas diferentes. As vezes as mesmas pessoas. Você chora, as vezes pelos mesmos motivos. Por outros filmes. Pelas mesmas lembranças. Mesmos livros.
Acontece. Você escolhe ir para frente, e as vezes esbarra em uma pedra exatamente igual. E é quando você percebe que suas decisões, seu determinismo cego, suas malditas escolhas, só cabem a você. Eu decidi ir embora, uma vez, tantas vezes, e nem por isso os lugares deixaram de estar ali. A minha cama não deixou de estar arrumada esperando meu retorno, mesmo que não houvesse. Porque você decide ir, mas nada impede que as coisas continuem. Parece simples, mas aprendemos que todas as atitudes tem consequências, e que vamos viver com elas pro resto de nossas vidas. Mas certas coisas simplesmente ignoram nossos pulos de cabeça em cachoeiras profundas e continuam calmas. Apenas continuam.
Pode ser o mesmo momento de perceber que você é insignificante. Ou o momento de achar que é importante ao ponto de ser esperado. Você decidi partir, mas não impede que alguém continue te amando. E ao olhar para você mesmo, você percebe que mesmo seu corpo parou de mudar, embora você tenha decidido crescer, amadurecer, envelhecer, transformar-se. É mais o jeito como você o enfeita, veste, disfarça. Roupas sérias, roupas novas, maquiagens fortes, maquiagens novas.
Ah, sim, e percebe também coisas estúpidas, só pela simples satisfação de percebê-las, esmiuçá-las, sentir-se Sábio. Sentir-se burro. Sentir-se. Percebe que seu celular custa mais que um exame de saúde que você reclama em pagar. Percebe que os seres humanos cuidam mais das células mortas que tem, são unhas, cabelos, do que do corpo vivo, da pele, do coração. Percebe que um funeral bem arranjado custa o mesmo que um parto bem feito. Que ironia. Dívidas que fazemos ao chegar e partir, e que na verdade jamais pagamos. Como certas cicatrizes em outros rostos. No seu próprio. Em árvores. Muitos acreditam que sim, que aqui se faz e aqui se paga, mas não existem juízes e júris mais vadios que nós mesmos, que policiamos a vingança cósmica que se prevê, mas não fazemos nada para nos defendermos daquilo que nos machuca e sai impune.
E continuamos esperando que o destino maquine sua justiça, seu carma. E esperamos satisfeitos com nossa inocência, tencionando manter-nos ali, justos e perfeitos, desejando no íntimo poder sussurrar ao ouvido dos réus “é por isso que você está sofrendo”. Somos assim, por isso que não saímos impunes de nós mesmos, de nossos próprios erros, de nossas próprias escolhas. De ver por vezes coisas dolorosas se repetirem. De achar que é forte, mas diante da lápide ainda chorar como no enterro. De amar de novo, e perder novamente.
Acontece, quando você decide não voltar atrás. As coisas acontecem novamente, talvez, para que você experimente a sensação de que se você morrer, as coisas continuam. “Morrer só é fácil pra quem morre” me disseram certa vez quando desejei que fosse mais fácil, quando desejei descansar para sempre, e agora eu sei o significado disso, do fundo do meu coração, eu sei, e talvez o meu objetivo seja fazer com que isso signifique algo pra alguém também. Que eu possa sair, para jamais voltar, e que para mim sempre, sempre seja fácil, mas que eu possa deixar em quem fica, a sensação de que falta alguma coisa. De que as coisas continuam, mas há um espaço que será sempre meu, esperando alguém que nunca volta. Para que minha lápide não tenha flores de plástico encardidas, mas sim lágrimas como as que deixo para meu pai as vezes. Que não dizem que estou sofrendo, mas que sinto, e sempre vou sentir sua falta.

(Me preparando para o 1º Dia dos Pais, sem ele...)

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