terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Voltei, para onde não sei...

Eu não quero saber. Eu me ouvi dizer. Estas palavras. Em minha mente. Tantas vezes escolhi estar ali. Tantas vezes achei que fosse necessária. E ao partir, percebi, não fazia falta alguma. Nem lá. Nem em mim. Quantas coisas, ou pessoas, ou lugares, podem existir sem a pretensão de existência. Sem a significação de importância. Aquela velha história da árvore que cai sem que ninguém esteja lá. Se ela faz barulho ou não. Se ela importa ou não. Se alguém sabe ou não. Tenho certeza que enquanto escrevo, milhares caem. Outras milhares são plantadas para serem derrubadas. Sem que a minha existência importe para elas. Para eles. Para todos. Se eu cair, alguém ouvirá o som que farei? Se eu decidir ficar de pé, importa a alguém? Onde estarei? O que farei? Realmente estou conectada com os outros bastardos que julgam viver vidas importantes, fazer coisas importantes que não importam a ninguém? Ou somente não importam a mim? Quando resolvi me desligar, não foi só uma decisão digital, não foi só uma temporada de estudos. Foi um apego. Apego as paredes que me envolvem, assim como a repulsa ao que há fora delas. Ao mesmo tempo que uma ânsia de lugares maiores se fez dentro de mim, nervosa, irritante. Uma ânsia, quase de vômito, quase fome, meio que os dois. Enquanto decidia que odeio viajar, e ao mesmo tempo odeio estar. Essa imparcialidade, múltipla de desejos, me fez perceber que me abandonei tempo demais. Decidi me afastar de mim, pelo simples fato de que conhecer-me me leva a loucura. Quase sempre. Mas a total reclusão, me afogando em outros interesses, em trabalho, em cansaço, em diversão me tornou confusa. Me tornou uma estranha. Uma estranha para os outros, que percebi nunca conheci. Não os conheço, eles não me conhecem. Eles não desejam a complexidade disso. Assim como eu sei, não desejo também conhecê-los. Uma estranha, para mim. Que sempre julgo estar a frente em ler os outros, pareço ter fechado minhas próprias páginas amareladas. E nelas agora, como se água, orvalho, chuva, liquido qualquer tenha se derramado, nada consigo ler. Decifrar. Não consigo decidir entre as oportunidades. Me vejo envolta no futuro. O futuro que julguei seguro. Que julguei perfeito, que em minhas mãos parecia encaixar-se. Eu o vi. Contemplei suas falhas e boa mobília. E desgostei-me disso. Senti novamente aquele desejo cauteloso que clama pelo sofrimento. Que clama por caos. Que clama por espaço. E silêncio. E afinal, decidi por distancia. Cada vez maior. Cada vez mais certa. Cada dia, mais intensa. Uma distancia sóbria. De consistência nenhuma. De objetivo nenhum. E essa distância, embora tediosa. Onde todos os lugares serão sempre os mesmos. Pois o problema sou eu, identifiquei. Essa distância monótona e sem objetividade, tem me mostrado, cada vez mais, que não faço falta. E que eu não desejo fazer parte. Ou terminar coisa qualquer. Eu seguirei. Até onde. Até quando. Não sei.

Super Poderes

Poder. Quantas crianças não sonham em ter um. Qualquer um. Ora essa, eu queria ter um. Voar, atravessar paredes, ficar invisível. Qualquer poder se arranjaria em possibilidades infinitas para qualquer um. Desde as mais ilegais para se tornar rapidamente rico ou mesmo ser apenas secretamente especial, poderoso. Ah, sim, todo mundo gostaria de ter um poder. Alguém colocou isso na nossa cabeça. Que somos todos muito comuns, parecidos, diferentes no entanto, mas bem, margeando a chatice dos mortais regulares. Mas deixe-me dizer, que a ânsia de ter um poder avança, cresce como o corpo, vai se metamorfoseando. Aos 5 anos de idade talvez eu quisesse realmente voar, me imaginava viajando entre as nuvens, confidenciando meu segredo apenas para alguns, pessoas muito especiais para mim, que chocadas me achariam um monstro, secretamente invejando minha habilidade. Aos 10 anos, já tinha se infiltrado em mim a ganância que acompanha as notas coloridas feita em papel insípido que chamamos de dinheiro, e veja bem, queria ter o poder de atravessar paredes e adentrar os cofres mais bem preenchidos com tais papéis. Aos 15 anos acho que desejei somente voar de novo, a vida era muito louca, mas acredito que desejava também ter o poder de ficar invisível, porque, bem, a vida era muito louca. Mas agora, em meus 21 anos de idade, o único poder que desejaria ter é o poder da Informação. Sim, o néctar do séc. XXI, A Informação. Vocês devem pensar “no século da informação, da internet, da liberdade de expressão, das redes sociais é claro que todos podem ter esse poder!”. Mas compreenda, isso é muito relativo. Eu tenho talvez a possibilidade de mergulhar na quantidade de informação que eu quiser, da teoria física das cordas até a última BBB fazendo sexo em rede nacional. Porém, por vezes, presencio a informação, como ela é, distorcida, moldada ao caráter de quem a passa, partidária, sensacionalista, religiosa, promíscua, tendenciosa e mal intencionada. Porque, veja bem, informação é poder. E quem possui esse poder o usa extremamente bem. Informação sempre moldou o que pensamos, como interpretamos o mundo, o que sentimos, como reagimos. E nesse século bombardeado por informação, até demais, ficamos confusos, perplexos, confinados na segurança de nossos perfis azulados esperando que alguém lhe entretenha com trivialidades. O mundo das informações é assustador para algumas pessoas, elas se perdem fácil. Não que sejam idiotas, ou incapazes de processar tais coisas, mas simplesmente, tornou-se tão vasto, tão fácil, tão alcançável que é enfadonho e desnorteador. Há informação demais, então filtramos o que nos interessa. Eu quero esse aí, esse poder de criar informação que interessa, que entretém, que educa, que se dissemina. Alguns anos atrás trabalhando em uma empresa ouvi algo interessante, um radialista falando mal da tal empresa em seu programa muito bem ouvido pelos adeptos de rádio. Bem, perguntei ao meu chefe se as coisas que o bom homem do rádio dizia eram verdades, e ele apenas me disse “Não, é que não o pagamos esse mês, é isso que eles fazem quando as empresas concorrentes o pagam.”. Fiquei chocada com isso. Jamais acreditei que tal esquema fosse empregado no mesmo, uma espécie de suborno em troca de elogios. Bom, que ingenuidade a minha, se não é essa a descrição perfeita da mídia, percebi a seguir. Sim, sim, eu queria ter o poder da Informação. Ser a Senhora da Informação, e onde eu visse meu querido poder sendo usado corruptamente eu daria um peteleco de vento e tcham! a informação voaria a todos os ouvidos. Mas não possuo tal poder, tenho um blog, um facebook, um twitter, ao invés. Mas acredito que aqueles que me acompanham preferem saber o que eu almocei do que o que eu realmente acho sobre as coisas. Claro, todo mundo acha bonito ter opinião. Estamos na moda dos politicamente corretos, com todo mundo meio que no meio do muro, nem discordando, nem concordando. Só lá, esperando que alguém mude de assunto. E enquanto isso, os Super Poderosos que tem o poder da Informação a manipulam como querem, distorcendo fatos, ignorando vozes, corrompendo justiça e distribuindo escândalos. E eu que achava que não era livre quando criança ao descobrir que não podia voar, hoje em dia tenho certeza, vivendo nessa bela ditadura disfarçada de democracia travestida de justa, onde sei que não sou livre porque não posso me expressar e ser realmente ouvida.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Momentos de mesas de cor tabaco

Eu já cometi esse erro uma vez. Duas vezes. Quantas vezes, na verdade não sei. Isso de deixar que tudo o mais seja importante exceto alguém importante. Em todas as vezes, seja lá quantas foram, eu perdi alguém. Alguns se foram, outros jamais voltam. E em todas as vezes me prometi ser diferente. Deixar meus estorvos e brincar. Esquecer as coisas que ainda vou fazer e sorrir. Ignorar os números antecedidos pelo sinal negativo na minha conta e abraçar com a mente vazia enquanto o coração se preenche. Mas eu sempre volto pras mesas nas quais meus olhos se dilatam em frente a luz pálida que se enche de cores. Que crio. Que escolho. Que amo. E estou com fome. E o banheiro, tão perto, as vezes ignoro. Até que eu esteja doente, até que eu me sinta morrendo. Até que não possa estar lá e fique pensando em todas as coisas que deixo de fazer, me sentindo mal, me sentindo culpada, me sentindo inútil. Embora em todas as vezes que eu tenha deixado de ser o super-herói de alguém em brincadeiras de um bebê. Embora em todas as vezes que o cansaço me tenha roubado beijos. Embora eu jamais toque as quantias que mereço por mais que alguns segundos antes que elas passem de minhas mãos para outras. Eu continuo a deixar que esses momentos de mesas de cor tabaco sejam mais substanciais em minha rotina que os momentos insignificantes dos quais lembro para sempre. Com pessoas que me esquecem. Das conversas que nada significam. Dos sorrisos que não conto. Sim, eu talvez seja pequena demais para tanto amor. Pequena demais para contê-lo. Para amar o que faço, apenas o suficiente. E amar quem me ama, por completo. Em primeiro lugar. Amar os lugares, e as pessoas e também os detalhes. Eu me lembro que já fui maior. Que já encapsulei tanta, tanta paixão por tudo, que em determinado momento isso me fez odiar todas as coisas, pois elas eram perfeitas demais, positivas demais, felizes demais, não importando o quão miseráveis fossem. E foi quando tantas vezes, me perguntei se jamais tristeza qualquer poderia ser sentida, quando senti-me entorpecida por não poder chorar. Pois sempre haveria um lado bom. Uma coisa a aprender. Um jeito de usar aquilo que tanto mal podia me fazer, para algo bom. E isso só terminou quando longe de meus olhos, longe de minhas mãos, longe da minha capacidade presunçosa de controlar o mundo, alguém partiu, quando percebi, que sim, eu sinto. Eu sinto falta. Eu choro. Agora no entanto, sinto o prelúdio de outras perdas, sinto o desinteresse que nasce em meu âmago, premeditando o que virá. Quem partirá, quem ficará. E por vezes estou tão cansada, tão cansada, que sinto, deixo também que as coisas que amo fazer, comecem a se esvair por meus poros, desmerecidas, irreconhecidas, cálidas. E me pergunto o que será de mim se não amar mais nada, se não amar ninguém. Provavelmente estarei dormindo, e outro épico vazio será minha companhia. Um vazio maior, imensurável como sempre. Mais eterno e breve que o primeiro. Mais Sábio e inútil. Mais solitário e companheiro. Eu não o espero. Eu não o temo. Porém, eu o compreendo. E vindo ou não, ele terá feito sua passagem em pensamentos corriqueiros. Adormecidos a tanto. Sonolentos. E trará consigo sinais positivos na conta bancária, textos novos, trabalhos incríveis, e satisfação nenhuma. Como sempre, como nunca.

domingo, 6 de novembro de 2011

Queimem, pagãos!!

É inadmissível. Inconseqüente. Banal. Velha sem dentes.

Tormenta e despojos de guerra.

Batalhas sem terra.

Passos na areia.

Sombra e prelúdio da dança macabra.

Corpo Pintado.


Porque sempre é, inadmissível. Inconseqüente. Banal. Ser diferente, do que se prega e canta. Entoar deuses. Lutar por identidade. Julgar os júris. Perder a fé. A fé, que tem nome único e crenças imutáveis. Maleável aos dedos certos, incontestável em mãos erradas. Páginas e páginas, não entendo nada. E tudo elas dizem. O passado e o futuro. Tudo, eles disseram-me.
Desde os primeiros. Até amanhã. Onde os aviões caem. E pilhas de concreto caem esmagando aqueles, que são mais símbolo do que outrem. Descreve o mar que se tinge, e o mar que se separa. Torna vinho, desgosto, a água e as mágoas. Nem sempre nesta ordem exata.
Deveria eu acreditar no absurdo? Ouvir os mudos e crer em cegos? Calar-me? Diante ao que me é ensinado. Não basta ler. Não basta interpretar. Você deve obedecer. Esse é você. Quem você é. O que você vive. Sua carne e seu sangue. A carne dele, o sangue dele. Ritual. Ritos. Mitos. Lendas. O firmamento e as estrelas. Aonde adormecem os sonhos. E guerreiros tem seus pesadelos.
Não. Embora disseram aqueles mesclados a quem somos. Não, disseram eles. E morreram a dizer. Embora negassem, concordaram. Acredite no que acreditar, mas não me force a crer no que crês. Queimem! Queimem, pagãos! Ponha as mãos no fogo e jure. Jure! Você merece perdão nenhum. Dor qualquer. Sentimento nenhum. Seu pecado, alem de vir do outro lado, é ter pensado. Em mal algum. Em deus qualquer. Que não o meu. Aquele que invisível maneja. A mentira. O diabo. Ah, o seu pecado, é ter acreditado.

“Queimem!” Eles gritaram. E os demais, queimaram.

Intolerância religiosa é estúpido. Fé é mais do que crenças, é uma instancia do existir. É uma necessidade do ser, mesmo aqueles que crêem não crer, necessitam do nada, e do tudo que vêem, sentem. Respeite. Seja o que for, você não os entende, então os aceite, como eles aceitam você.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Far Away

Meus espaços tem cheiros característicos. Meus sentimentos se afeiçoam a cheiros específicos. Não falo de perfumes. Falo de essência. Os mesmos cheiros que nos fazem lembrar tanto. Confundem-nos tanto. Cheiros de viagens. Cheiros de comidas. Cheiros de pessoas.
Eu aprendi a amar dessa forma. E aprendi com quem não amava. Com alguém de composição e essência que não recordo. Mas seu cheiro especifico eu jamais desejei guardar entre minhas fragrâncias psicológicas.
São tantas as sensações. As vezes certo desconforto. Quando as coisas se apegam também a essa instância do existir de alguém. Em um tecido. Uma foto. Um travesseiro. Ah, quando essas coisas insignificantes se agarram a esse cheiro que é tão particular, tão seu, que nem mesmo o outro sabe distinguir em sua própria essência. Quando só você e mais ninguém parece senti-lo. Longe ou perto. Esses cheiros que te abandonam. Que se deixam ser lavados. Que se destroem fácil com o cheiro de lavanda adocicado. E aqueles que impregnam seu cabelo por semanas, malditos sejam. Cigarros e cerveja.
Sinto que poderia contar todos os meus desejos somente descrevendo-lhes com esse sentido inexato. O olfato. Todos os meus amores. E também os meus pecados. Meus vícios mentolados. E meus medos fétidos. Como desejaria poder no entanto saber qual minha essência para você, saber que aroma meu corpo expira a cada palavra minha, a cada respiração. Saber no quê o oxigênio se transforma quando me aproximo de você.
Embora não consiga também dizer-lhe isso com exatidão. Se doce ou salgado. Se leve ou amargo. Seu cheiro no meu coração, nas minhas lembranças. Pois eu guardo ele até que se esvaia. Eu o absorvo até a exaustão. Tentando decifrar, também, como sempre consigo estocá-lo em minha mente cansada? Se todas as vezes que você se aproxima não sinto que o oxigênio se transforma. Sinto que ele falta sem precisão.

sábado, 20 de agosto de 2011

Um texto sem eixo

Quando geralmente me sento para escrever o que acontece é isso: nada. Mas quando esse não é meu objetivo e o que eu realmente gostaria era dormir o que acontece é que as palavras acontecem me dando pouco tempo para alcançá-las. Embora pareça insano. É assim. E todos podem confirmar de seu próprio jeito que esse é um fato. A inspiração nos assalta o sono.
Eu tenho uma grande falha no meu estilo literário, e também na minha oratória. Embora muitos não o percebam ou pelo menos não me digam, isso já foi criticado, mas teimosamente não concerto ou simplesmente não consigo. Esse parágrafo é exatamente um bom exemplo da falha da qual descrevo. Eu não tenho foco. Começo com um pensamento e de repente outro surge, sem que eu resista descrevê-lo. Como faço agora.
Voltando ao primeiro tópico, se é que eu consigo, percebi outro dia que escrevo muito melhor quando não estou bem. E estudando um pouco isso percebo que todos os grandes artistas que já existiram produziram suas melhores obras em depressão, cativeiro ou melancolia, ou simplesmente bêbados. O ser humano produz o que há de mais belo quando está podre. No sentido triste da palavra, não fétido.
Tenho sentido muitas coisas. Porém a mais forte delas é nenhuma. Nada. Desmotivante por assim dizer. Eu sou feliz. Amo o que eu faço. Amo as pessoas que me rodeiam. Amo o lugar onde eu vivo. Amo a história que eu tenho. E a pessoa que ela me tornou. Amo meu dia. Amo a mim mesma, o que é um grande passo. E certas vezes por alguns instantes meu coração volta a bater. Porém tenho sentido vontade de simplesmente virar as costas e caminhar para lugar nenhum. Onde não hajam os mesmos rostos. E onde não hajam os mesmos cartazes. Esse lugar particularmente não existe porque qualquer lugar tornar-se-ia o mesmo do qual eu sai depois de um tempo. Então eu escrevo para que ninguém entenda, embora muitos vejam seus rostos nas palavras.
E novamente troquei o assunto. Outro defeito devo apontar. Eu sou egoísta. Eu descreveria muito bem qualquer outrem ou pelo menos acreditaria que o faria bem. Mas entorno e acabo voltando a mim. Bom, você faria o mesmo e o faz. Então ninguém pode me processar. Esse parágrafo novamente é um bom exemplo da falha apontada no mesmo. E retomo-o como exemplo também da auto-critica sobre falta de foco.
A questão é que egoísta e inspirada como estou tampouco consigo pensar que o que me falta na verdade é algo que resisto. O nada que sinto na verdade é algo que evito preencher. Eu os atraio e os afasto. Eu os encanto e os renego. E ainda me pergunto porque se foram. Logo a culpa de tudo na verdade não está em nenhum outro fator. Apenas eu. E o universo inteiro giraria entorno de mim nesse momento se isso não fosse tão cansativo.
É legal ser egoísta. É divertido ser resistente. É interessante ser fria. E é muito mais empolgante ser insana e como podem notar, eu sou. Aconselharia as coisas mais sensatas em outro momento e geralmente o faço. Logo, tampem seus ouvidos, o que não os impedirá de ler. Quem o fez é apenas um pouco mais tolo e deve se sentir bem agora. (: Espero tê-lo feito rir, ou pelo menos parecer idiota.

Eis o que aconselho. Mas não tentem isso em casa ou usem tesouras de ponta afiada.

Faça. E deixe de fazê-lo. Escolha, porém desista. Magoe. E finja que não se importa. Durma mais uma hora. Compre e depois jogue fora. Corra na direção errada. Roube uma placa de trânsito. Fale como quiser e não se corrija mentalmente. Ignore. Beba coca no café da manhã. Critique algo e o faça. Seja hipócrita. Trague. Fuja. Perca de propósito. Escreva seu próprio nome errado. Recomece. Minta. Minta de novo. Corrompa. Desacredite-se. Não confie. Use as roupas pelo avesso. Roube uma caneta. Cante musicas que não entende. Grite até sua garganta doer. Pise no pé de alguém de propósito. Negue um beijo. Tome banho de chuva com o celular no bolso. Não sinta compaixão. Não ajude. Queime. Seja irritante. Corte uma camiseta velha. Transforme uma lembrança em lixo. Atravesse a rua ao vê-lo. Aperte aqueles pelúcias irritantes que cantam. Durma em uma aula. Teime. Roube uma idéia. Levante uma sobrancelha. Ofenda. Machuque. Beba mais um copo. Seduza sem que realmente queira pra si. Dê um fora e continue a amizade. Lute sabendo que vai perder. Desarrume o cabelo. Ouça musicas no ultimo volume. Guarde dinheiro e o roube de si mesmo. Escreva mentiras para parecer legal. Tire fotos obscenas. Escolha cores que destoam. E jogue pipoca nos espectadores. Decepcione. Desminta. Mostre o dedo do meio. E misture as fichas em ordem alfabética. Disque o numero errado. Não ligue no dia seguinte. Não agradeça. Faça algo que considere errado. E escreva tudo isso sem se sentir culpado.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Morrer só é fácil para quem morre...

Eu não volto. Vocês já leram isso. Mas acho importante ressaltar que aqueles que assim decidem viver tem de se acostumar que as coisas voltam a acontecer novamente. Você cresce, e de repente é tolo de novo. Por outros motivos. Outras situações. Você escolhe, e machuca de novo. Pessoas diferentes. As vezes as mesmas pessoas. Você chora, as vezes pelos mesmos motivos. Por outros filmes. Pelas mesmas lembranças. Mesmos livros.
Acontece. Você escolhe ir para frente, e as vezes esbarra em uma pedra exatamente igual. E é quando você percebe que suas decisões, seu determinismo cego, suas malditas escolhas, só cabem a você. Eu decidi ir embora, uma vez, tantas vezes, e nem por isso os lugares deixaram de estar ali. A minha cama não deixou de estar arrumada esperando meu retorno, mesmo que não houvesse. Porque você decide ir, mas nada impede que as coisas continuem. Parece simples, mas aprendemos que todas as atitudes tem consequências, e que vamos viver com elas pro resto de nossas vidas. Mas certas coisas simplesmente ignoram nossos pulos de cabeça em cachoeiras profundas e continuam calmas. Apenas continuam.
Pode ser o mesmo momento de perceber que você é insignificante. Ou o momento de achar que é importante ao ponto de ser esperado. Você decidi partir, mas não impede que alguém continue te amando. E ao olhar para você mesmo, você percebe que mesmo seu corpo parou de mudar, embora você tenha decidido crescer, amadurecer, envelhecer, transformar-se. É mais o jeito como você o enfeita, veste, disfarça. Roupas sérias, roupas novas, maquiagens fortes, maquiagens novas.
Ah, sim, e percebe também coisas estúpidas, só pela simples satisfação de percebê-las, esmiuçá-las, sentir-se Sábio. Sentir-se burro. Sentir-se. Percebe que seu celular custa mais que um exame de saúde que você reclama em pagar. Percebe que os seres humanos cuidam mais das células mortas que tem, são unhas, cabelos, do que do corpo vivo, da pele, do coração. Percebe que um funeral bem arranjado custa o mesmo que um parto bem feito. Que ironia. Dívidas que fazemos ao chegar e partir, e que na verdade jamais pagamos. Como certas cicatrizes em outros rostos. No seu próprio. Em árvores. Muitos acreditam que sim, que aqui se faz e aqui se paga, mas não existem juízes e júris mais vadios que nós mesmos, que policiamos a vingança cósmica que se prevê, mas não fazemos nada para nos defendermos daquilo que nos machuca e sai impune.
E continuamos esperando que o destino maquine sua justiça, seu carma. E esperamos satisfeitos com nossa inocência, tencionando manter-nos ali, justos e perfeitos, desejando no íntimo poder sussurrar ao ouvido dos réus “é por isso que você está sofrendo”. Somos assim, por isso que não saímos impunes de nós mesmos, de nossos próprios erros, de nossas próprias escolhas. De ver por vezes coisas dolorosas se repetirem. De achar que é forte, mas diante da lápide ainda chorar como no enterro. De amar de novo, e perder novamente.
Acontece, quando você decide não voltar atrás. As coisas acontecem novamente, talvez, para que você experimente a sensação de que se você morrer, as coisas continuam. “Morrer só é fácil pra quem morre” me disseram certa vez quando desejei que fosse mais fácil, quando desejei descansar para sempre, e agora eu sei o significado disso, do fundo do meu coração, eu sei, e talvez o meu objetivo seja fazer com que isso signifique algo pra alguém também. Que eu possa sair, para jamais voltar, e que para mim sempre, sempre seja fácil, mas que eu possa deixar em quem fica, a sensação de que falta alguma coisa. De que as coisas continuam, mas há um espaço que será sempre meu, esperando alguém que nunca volta. Para que minha lápide não tenha flores de plástico encardidas, mas sim lágrimas como as que deixo para meu pai as vezes. Que não dizem que estou sofrendo, mas que sinto, e sempre vou sentir sua falta.

(Me preparando para o 1º Dia dos Pais, sem ele...)

domingo, 3 de julho de 2011

L'amour

Das vezes que fugi. E em todas as avenidas que pensei em viver. Nelas todas jamais morei. E em nenhuma delas vocês jamais estiveram nas vezes em que acordei em outro travesseiro. Meus amores. Jamais pensei que os possuiria. Se soubessem quantas vezes eu pensei. Em outras línguas. E quantas vezes escrevi. Na língua pátria. Que eu estava fadada. Fadada a amar e jamais ser amada.
No entanto ao abrir os olhos haviam outro par deles a me observar. Ternos. Cuidadosos. Sonolentos. E delicados. Mas jamais neles eu procurei eternidade. Eu sonhei com a eternidade. E semeei com as notas que me eram dadas, um lugar perfeito que fica longe. Nada árido ou desagradável. Inundado de vegetação agora, talvez. Assim como os sonhos que sempre findaram-se antes que eu colocasse os alicerces de sua construção pouco realizada. Mas muito planejada. Um lugar que era para dois. Um lugar, agora, para mim. Que não guarda nada. Nem lembranças. Assim como as coisas que me deram e que ainda guardo sem ressentimento ou mágoa. Apenas coisas. Significativas que tampouco me machucam em nada.
Nem mesmo nas músicas que escolhemos para nós e jamais chegamos a ouvir juntos. E nos desencontros nos quais eu perdi a hora. Em todos os momentos que não houveram por conta de meus atrasos. Por causa de minhas decisões. Por causa de meus descuidados. Em todos esses momentos inexatos de nenhum acontecimento em presente ou passado. Neles ainda existem nós dois, meu amor. Onde estive com você. Onde vivemos e rimos. Onde escondemos beijos que não trocamos. E desses momentos jamais lembramos. Pois assim como a casa torta onde chovem pétalas de jambeiro, jamais existirão.
Por mim continuaria assim. Onde não há o que lamentar. Somente os compromissos medonhos que tendem a machucar o que nos preocupa. E a eterna culpa por coisas que deixamos de fazer. Preenchendo a razão imprópria que pensamos ter. Calando as lágrimas vergonhosas de saudade que vocês, talvez, apenas talvez, derramaram. Elas jamais alimentarão meu ego como as palavras de amor que trovejaram tantos outros para mim. Aqueles que não me fizeram chorar ou correr. Aqueles sobre quem vocês jamais desejaram saber. Gostaria de saber porque, sempre, mesmo que me agrade, mesmo que me afaste, porque todos vocês supõem me possuir. A um ponto que machuca e envenena o espírito. Onde dói enquanto se imagina qualquer possibilidade. Quando eu lhes disse que eu vos pertencia jamais lhes disse que isso duraria. Os meus "para sempre" sempre se findam e não há surpresas ou festas. Apenas a coisa exata que eu sempre soube viver. O eternamente que se desfecha na mente e finda no coração.
Eu, que jamais supus ser amada assim, confesso, me surpreendo ter aprendido a partir. Para as mesmas avenidas que supus nas quais jamais viver. E quando nelas, lembrar dos momentos que não houveram. E preencher os pulmões com felicidade aparentemente de contemplação. Ah, sempre haverá o que troxeste para minha vida. E sempre serão os seus lábios nas sensações que meu corpo compara. As coisas boas e as coisas amargas. Todos os desejos não preenchidos e todos os medos contidos. Eu sempre serei sua. E você sempre será meu. Embora, eu, ao seu lado não esteja. Embora você me veja. E que eu possa ainda ser feliz apesar de suas maldições.
Apesar de tudo que não me feri e não me corta. Apesar das minhas medidas riscadas na porta. Apesar do que dizem elas, eu ainda estou crescendo. E isso me lembra vocês, meus amores perfeitos e irritantes. Constantemente me impulsionando à inconstância. Pois eu canso de ser quem sou e não volto a ser quem amavam. Mas a certa altura. Em certo ponto. Em certas partes do corpo. Em certos desencontros de novo. Em tudo isso eu sempre serei sua. Então não pensem que me perderam. Mesmo quando eu partir. Pois não me agrada em minha fértil e inútil imaginação, vê-los chorar. Meus amores. Os de agora e de antes. Os que virão. E todos os mais que jamais sonhei possuir ou amar. Todos vocês. Eu sempre vou amá-los em nossos para sempre, além do que é eterno.


Uma mistura das histórias de amor de alguns amigos e a minha própria. Espero que gostem. Amores marcantes que se findam.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Meus pés diminuíram

Meus pés diminuíram? Ou meus passos se estreitaram? Teria eu objetivos tão grandiosos e atitudes tão pequenas? Jamais tentei alcançar as coisas que desejei. Eu apenas as desejei para que tudo o mais fosse descartável? Para que as coisas que possuo não me tomassem para si? E para que eu não chorasse ao deixar qualquer parte minha em coração qualquer?
Eu sou má. Isso, já conclui. Não inteiramente devo acrescentar. Sou o que se pode chamar de comum. O que és. O que escondes. Meus certos e errados se confundem, mas eu me sinto esclarecida. Por mais que as vezes ache que a loucura margeia os pensamentos constantes que não consigo conter por inteiro. Todas as possibilidades. Exatamente, todas elas. As mesmas que me esclarecem enlouquecendo-me. Indo de encontro ao que é óbvio, ao mesmo tempo que percebo, as palavras me são bem vindas para descrevê-las, mesmo que a mente não seja suficientemente grande para mantê-las inconscientes. Onde não me incomodariam.
Por vezes acho que sei demais. Que descobri ao contrário. Que percebo o que deveria sentir. E sinto o que ninguém mais sente. Que minhas motivações e atitudes não se encaixam em qualquer um, mas que são inteiramente admiradas por quem não teria coragem do mesmo. Onde aqueles que as conhecem comigo, a vangloriam, e aqueles que apenas as conhecem, a repudiam.
Sim, eu me livrei das convenções. Não sem antes entende-las, aceitá-las, saber recitar todas elas, e saber a face que se faz a qualquer menção dos tabus. Esse é meu mal, entender afinal. Antes que seja dito. Pronunciado. Antes que se torne vivo ou tangível. Eu o tenho dito. A tendência do que sentem. O prelúdio do que antevêem. Eu sei o que o faz só. O que lhe faz chorar. Mesmo que por vezes você não tenha a sorte de fazer tamanha simples associação, e chore, então. Monet. Ah, os borrões!
Eu lhe direi boas palavras, que parecem fazer sentido. Eu lhe sussurrarei ao ouvido. E sim, por vezes, admito, vou amar. Mas quando o corpo e todas as conexões nervosas me são tão familiares, onde a mente apossou-se de qualquer figurativo emocional, eu lhe digo, não perdoarei. E não hesitarei em deixar nada para trás. Com os passos estreitos de quem não vai por completo. De quem fere, para saber que ainda pode voltar, mesmo que não intencione a tal.
Sim, a loucura e o mal. Por vezes desejaria que coubessem em descrições minhas. Não sou hipócrita devo aferir. Todos os rostos meus me pertencem por completo. E todos os sorrisos seus devotados a mim me satisfazem. Devo lembrá-los, de que mais que apenas um ser humano, já egoísta e mal talhado em nossa origem, sou também alguém que ambiciona conhecer os limites do poder que possuo. Poder nenhum. Poder qualquer. Aquele que montei para mim, após ser derrotada. Quando minha face deixou de doer depois da noite chorada. Aquele que a humilhação transformou em orgulho. E que agora possuo, querendo sempre mais e o nada.
Meus pés diminuíram. Mas meus passos não são para trás. Meu vocabulário cresceu mas minhas histórias não se tornaram mais floreadas. Eu amo. Eu sangro. Eu corto. Eu rio. Eu minto. Eu choro. Eu vivo. Eu mato. Eu não sou a coisa perfeita que já desejei ser diante de quem me olha. Ainda que alguns duvidem das palavras aqui citadas. Ainda que eu tenha caminhado passos para fora da sua mente fechada. Eu não caibo em seu mundo. Pois o meu tem o tamanho da minha mente. A mesma loucura intocada. A mesma que enlouquece os punhos que puxam os cabelos para que eu esqueça de pensar. A loucura que me convém. Que me afoga. Que escreve. Que provavelmente, também, irá me matar.

sábado, 25 de junho de 2011

E o que é que ela vê nele? Nossos amigos se interrogam sobre nossas escolhas, e nós fazemos o mesmo em relação às escolhas deles. O que é, caramba, que aquele Fulano tem de especial? E qual será o encanto secreto da Beltrana?
Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros.
Agora vou contar o que ele vê nela: ele vê, sim, que o corpo dela não é nem de longe parecido com o da Daniella Cicarelli, mas vê que ela tem uma coxa roliça e uma boca que sorri mais para um lado do que para o outro, e vê que ela, do jeito que é, preenche todas as suas carências do passado, e vê que ela precisa dele e isso o faz sentir importante, e vê que ela até hoje não aprendeu a fazer um rabo-de-cavalo decente, mas faz um cafuné que deveria ser patenteado, e vê que ela boceja só de pensar na palavra bocejo e que faz parecer que é sempre primavera, de tanto que gosta de flores em casa, e ele vê que ela é tão insegura quanto ele e é humana como todos, vê que ela é livre e poderia estar com qualquer outra pessoa, mas é ao seu lado que está, e vê que ela se preocupa quando ele chega tarde e não se preocupa se ele não diz que a ama de 10 em 10 minutos, e por isso ele a ama mesmo que ninguém entenda.

Martha Medeiros

(Achei esse texto muito interessante. Além de muito verdadeiro)