quarta-feira, 30 de março de 2011

Não há perdão

Sempre os mesmos passos. Aqueles que aprendi a não dar. Os que dão errado. Eu já vi. São os mesmo passos que tomaram por mim. Antes. Agora. Amar. Perder. Amar. Perder. Sempre os mesmos passo malditos. Nunca os mesmos pés. Nunca a mesma estrada. Mas sempre chegando ao nada. Onde eu tento esquecer os calos. Onde os beijos jamais foram dados. E onde eu jamais consigo dormir.
Eu sempre volto pra cá. Onde entendo tudo, e nada faço. Onde as coisas são tão claras, que se tornam suspeitas. Vindas de algum lugar sombrio dentro de cada um. Vivenciando o que lhes faz bem, no egoísmo que satisfazem-se ao acharem que são bons.
Talvez não me satisfaça que cada um tenha a sua vida independente de mim. Eu quero seu sangue. Sua mente. Quero que seus pensamentos sejam meus. Eu quero controlar seu humor, pra que você ria e chore, quando eu quiser. Quando meu tédio se dissipar por isso. Quando dependendo do que eu disser, você possa ser feliz ou não.
Por isso fechei minhas mãos. As fechei em volta de todos. Em volta dos pensamentos, das dores, dos problemas, das vidas. Todas em meus punhos. E a única coisa que inconseqüentemente me diverti em fazer, foi apertá-las ainda mais forte e com os punhos cerrados, dar um soco em cada face.
Uma de cada vez. Eu não te amo mais. Lento e forte. Vá embora! Com pouca precisão pois não havia receio em machucá-los, mas prezo meu próprio corpo. Eu não me importo com você! Eu coloquei meus méritos em cima de uma estante torta. Eu quero terminar… Eu coloquei minhas palavras em folhas brancas, não. Eu nem ao menos consigo escrevê-las com minhas próprias mãos. Não consigo lê-las em minha própria cabeça. Nada está claro. Apenas compreensível.
Não há quarto mais escuro do que seus próprios sonhos. Não há conforto maior do que descansar dos outros. Não há história melhor do que aquelas que ainda não li. As que jamais escrevi. Aquelas que não pensei e me surpreendem. Eu quero me assustar. Eu quero morrer e voltar. Eu quero comportar os medos que já possui e se foram. Eu quero respirar mais fundo, e beijar mais vezes. Eu quero quebrar os relógios e celulares. Quero dormir sem saber onde e acordar com quem amo. Dizer coisas horríveis, manter meu controle sobre ele, e saber que ainda me ama. Porque eu o amo. Eu amo todos vocês. Me vêem lágrimas que eu não sabia que tinha. E sentimentos que não reconheço mais. Desculpas, ainda margeiam as palavras que gostaria de dizer apesar de não expressarem o que você quer ouvir. Não há perdão.
Percebi o quão descartáveis somos. Uns para os outros. Quando se vai e o que se mantêm. Nada mais do que as ralas lembranças que aos poucos desvanecem ao tentarem ser lembradas. As mesmas estradas. O mesmo “Obrigada”. Sim, devo admitir, você não precisa de mim. E eu não preciso de você. Somos cada um. E você vai por onde quiser. Você sangrará só. Mas ao menos meus pés tem calos dos quais me orgulho quando calço seus sapatos. Não lamento tê-los deixado descalço. Eu não preciso de ninguém. Embora sinta sua falta. De todos vocês.
E por isso eu esqueço meus conceitos e meu orgulho. Que aceitei de mãos vazias. Percebendo que ele preenchia cada rosto que magoei, cada olhar de ressentimento que gerei. Cada magoa nossa. Me perdoe ser, mais do que qualquer coisa, humana. Não há culpa. Nem desavença. Não possuo crenças que me convençam de que tudo retorna até onde nada aconteceu. O que eu tenho é meu. E nada possuo. Suas palavras serão duras, e elas eu devo aceitar. De braços abertos. Com o sabor amargo que tiver. Você é quem é. Há coisas mais fáceis do que perdoar. E há coisas mais difíceis do que perder. Mas ainda assim, não peço desculpas, ou “com licença” para viver. Eu erro. Você erra. E a única coisa que me torna quem sou são os erros meus. Eu vou falhar. Com você. No Amor. Nos estudos. No trabalho. Eu sempre falho.
Mas eu tento compensar, sendo, tentando na verdade ser, alguém melhor. Um dia depois do outro. E tem dias que destruo quem sou. E tem dias que não quero ir. Tem dias que penso em ti, e nas conversas que não teremos. Porque as vezes as palavras machucam mais do que os fatos. Você merece coisa melhor. Alguém melhor. Que esse alguém seja você. Que não haja decepção por coisa qualquer. Meu desejo maior. Que ninguém jamais possa te machucar. E eu mesma o faço. Ah! Se não somos nós todos palhaços! Que você reconheça nos lábios. Nas palavras. Nos rostos, quem te ama de verdade. Você merece ser amada, exclusivamente. Você merece tudo, e nada. A escolha entre ambos. O poder de fechar os punhos e socar meu rosto. Se isso lhe fizer sentir-se melhor.
Espero que saiba, que as pessoas mudam, muito embora continuem sendo o lixo que são e amam em si. As pessoas crescem, algumas mais por fora do que por dentro. E você é uma das pessoas mais “altas” que já conheci. E outro dia percebi, que você tem o sorriso mais lindo do mundo. Que o jeito como ri levantando o rosto um pouco é a coisa mais meiga que já vi. Percebi que você deveria se amar mais que qualquer pessoa jamais poderia. Acho que não é assim. Mas ainda assim, eu te amo. E pela primeira vez, apesar de não depender disso, quero saber o que estar por vim. Obrigada. E embora eu não acredite no perdão, talvez você acredite, se ele lhe fizer bem, eu o peço a ti.

domingo, 27 de março de 2011

Quando é possível perdoar?


Esta semana enquanto ouvia as notícias matinais no rádio. Ouvi que será marcado para a próxima semana o julgamento do jovem Wellington Luis Raad, autor de uma das maiores chacinas da história do Estado do Amapá. E isso me fez refletir e instantaneamente questionar, será que em situações-limite como essas onde famílias inteiras são dizimadas, é possível esquecer e perdoar?
Próximo a completar um ano, a história da família que foi brutalmente assassinada em sua própria residência volta à tona. Caroline Camargo de 32 anos e os seus filhos Marcelo e Vitória Konishi, respectivamente com 19 e 11 anos, foram mortos a golpes de faca no dia 10 de Maio de 2010 em Macapá. O suspeito de ter cometido o crime era um amigo da família, Wellington Luis Raad Costa, de 19 anos. Depois de muitos exames periciais e especulações, ficou constatado quatro dias após o crime que as manchas de sangue encontradas nas paredes da casa pertenciam a Wellington, que somente após de um intenso interrogatório na presença de advogados, promotores e delegados, confessou que ele foi o autor do triplo homicídio. O caso da Família Konishi teve grande repercussão dentro e fora do Estado e até hoje ainda há uma incógnita a respeito de o que teria levado Wellington Raad a cometer tal atrocidade.
Outro caso que marcou a história policial de Macapá foi a chacina da Família Magave, ocorrida no interior do Estado a cerca de 15 anos atrás. Neste caso o motivo dos assassinatos foi a disputa por terras. Por se recusar a vender parte de suas terras a outro fazendeiro da região, Magave e toda a sua família tiveram suas vidas ceifadas.
Crimes bárbaros como esses me fazem pensar: Será possível esquecer e perdoar atos tão violentos como esses?
De fato, estamos vivendo numa época que podemos chamar de Era Homo Hostilis,onde o homem se tornou uma espécie de animal vicioso e hostil com uma caracterização particular e única que acaba se traduzindo por violência. E violência, assim como a traição por exemplo, parece que nunca é esquecida. Se o esquecimento não pode coexistir com a violência, será possível então haver perdão?
Pensamos o perdão como uma possibilidade de reconciliação, portanto ele não seria um esquecimento e sim, lembrança e se não é possível esquecer é difícil também perdoar. Logo, falar da possibilidade de esquecimento e de perdão diante de uma situação, como os casos da Família Konishi e da Família Magave, parece algo completamente paradoxal.

O tempo que não possuo


Por tantas vezes que eu tente descrevê-lo ele esvai-se por entre os dedos. O tempo, eu quero dizer. Sua inconstância marcial ritmada e a sonoridade que não possui. Acredito, nem mesmo os relógios conseguem contê-lo. A natureza em sua perfeição exagerada parece entendê-lo. Mas eu… Em minha extensa e curta vida, a mim parece que ele não deseja ser entendido, compreendido, tomado entre ponteiros acusadores, muito menos enclausurado dentro de calendários publicitários. Assim como eu, acredito, o tempo não deseja ser tomado por nada. Sua forma oblíqua que preenche até onde a essência não chega. Onde não há matéria. Somente o tempo.
Ele se manifesta. Em anos-luz. Até onde nossa infinita ignorância nos permiti enclausurá-lo em probabilidades. Tememos o tempo. Por isso ansiamos por controlá-lo.
Nosso desejo disforme entre a imortalidade e a vida plena. Nossas crenças pós-morte e nosso temor pela chegada da hora de testá-las. Nem somente o medo de tê-las errado. Assim como também a quase certeza do desapontamento se no final houver somente o nada. A ausência de consciência. Nenhum cosmo orgástico de prazeres além daquilo que se imagina. Nenhum descanso eterno na grande mão de qualquer divindade. Nenhum prelúdio de retorno. Somente o nada. Que não permitirá divagarmos pela contestação destas possibilidades inexatas. Sim, somente o nada.
É temeroso acreditar que o tempo possa nos tirar a vida. Até impensado talvez. A tanto se vêem pessoas que partem antes que o tempo lhe conceda últimos momentos de desprazer e despedidas constrangedoras.
A vida moderna traz consigo fatalidades muito mais assombrosas e desejadas do que o tempo e a hora certa da vida tomada. Ele morreu. Não, alguém o matou. Porque, me pergunto, não iria ele morrer afinal? Que grande falta de objetividade essa coisa mortal. É banal. Mesquinha. Ausente de moral provada. Com as coisas fingidas valendo socialmente mais do que qualquer verdade testada.
O tempo, em sua infinita liberdade e controle, domina acima dos pulsos aprisionados a essas algemas que chamamos de relógio. Impera em nossos corpos em sua ininterrupta marcha à morte. Alheio de sentimentos e interrupções. Se um arco torcido, uma elipse giratória, ou um ponto de existência, jamais ele se importa. As probabilidades a ele referentes tão insignificantes quanto os dias que clareiam e escurecem subordinados em sua grande majestade. Quem o nomeou assim talvez contendo-o em uma palavra tão curta tenha empregado o sarcasmo e seu desprazer ao grande senhor que nos rege. Blasfêmia ao lhe impregnar tal limitação.
Talvez por isso o tempo corra agora. Mais do que antes. Ofendido. Ele conta o agora, provando que nem mesmo isso nos pertence. Provocando-nos sempre que possível a escolher entre possibilidades que se esvaem sem retorno. Dizer “adeus” sem poder voltar para ver o que estaria no lugar de palavras contrarias. Dizendo “sim” e encontrando estradas incertas de pessoas que não sabemos ser, enquanto caminhamos ansiando olhar para trás somente mais uma vez antes de discorrer sobre os erros que isso nos levara a cometer. Abandonando pessoas. Abandonando espaços. Perturbando matilhas que não nos recepciona. Aborrecendo famílias. Escapando das trilhas.
Esses somos nós. Conseqüências do belo amor divorciado há anos atrás. Odiando o tempo mas desejando o amanhã. Marcando compromissos e entregando trabalhos atrasados. Desenhando paisagens e recordando fotos não tiradas. Compreendendo o mundo e desconhecendo-nos por completo.
A morte, tão temida e mistificada nada mais é para nós. Somente outra conseqüência. Outro ato ininterrupto da constante atuação do tempo e das certezas que declaramos tão incertos.
Eu não temo a morte, meus senhores. Sim, eu temo o tempo e seu sinônimo com mais letras em línguas esquecidas. Pois a imortalidade toca alguns. E suas palavras vagam entre estudos concentrados e citações presunçosas em conversas de bar. Mas o tempo não permiti que o corpo continue. Ele apodrece mais que a terra molhada das covas claustrofóbicas. Ele esvai o que se é e o que se sente. O tempo mal espera que você se concentre. Sua forma mesquinha pouco martirizada pelas formas circulares que marcam horas. Dias. Fases da lua. O tempo não me pertence e sem ele somente existe o nada. O eterno e pretensioso vazio da imortalidade. Pois o tempo é misericordioso ao tirar-nos de suas asas. Ele nos permiti esvair-nos e deitarmo-nos nas claustrofóbicas covas citadas.
O mundo através dos anos vem sendo destruído através de heranças mal gerenciadas. Imagine nós, seres imperfeitos, se fossemos também imortais. Parecemos a tanto tentando encontrar formas de nos matar mais. Explodir mais. Encerrar por outros. Estender àqueles que não nos pertencem a doce possibilidade que o tempo maestra com excelência.
Eu temo o tempo, por isso diante de sua tirania eu me submeto. Eu o subverto. Conto os dias ao contrario. Eu perco horas. Eu perco datas. Eu sacrifico o tempo que me falta. Escrevo palavras pútridas em suas costas largas. Eu odeio o tempo e sem ele não sou nada. Eu o aproveito deixando que se aproveite. Deixando que leve de mim o que eu amo. Deixando que leve quem me ama. Deixando que as coisas que amo em mim também sejam levadas.
O tempo ainda não me dera as marcas que o rosto e a pele possuirão. Mas por dentro o tempo sangrou-me cicatrizes que somente ele cura. Não mais largas ou profundas do que as suas. Jamais saberia compará-las. O tempo não me permitiria tal presunção. Mas marcas que sei nem mesmo com o tempo, sua misericórdia e seu desdém por meus planejamentos mal feitos, saberia curar até o esquecimento. Elas não sagram mais, devo dizer. Apenas deformam a beleza horrenda do puro ser que fui. Puro em maldade e egoísmo. Pois o tempo e sua lâmina impiedosa lapidaram o que sou. Me fazendo sangrar sem anestésicos no processo.
Mas se me perguntares se desejaria voltar atrás. Fazer de outra forma. Dizer outras coisas. Eu diria “Jamais”. O que sou é imperfeito, feio e egoísta, mas ainda assim é o que me contem. Meu diamante de sangue e pedra polida até doer. Essa sou eu, e o tempo, maldito e amaldiçoado, me fizera assim fazendo-me escolher. O que escolhi, senhores, embora tenha esquecido as exatas palavras ditas e as roupas usadas, foi algo que não me permito compartilhar. Talvez o tempo não permita. Eu vago em minha mente procurando a palavra certa mas ele me faz percorrer cadeias cíclicas de estranhas recordações. Digamos apenas que escolhi viver o escolhido sabendo que ferir e ser ferido faria parte do procedimento. Para mim. Para o tempo. Escolhi algo mais tedioso que o confinamento. Eu escolhi caçá-lo em momentos. Até que pudesse preenchê-lo todo com histórias minhas e as tomadas por mim dos demais. Eu percorro minha própria vida até que, tempo, eu não tenha mais.
Hoje aquela sensação de desconforto e imaturidade acabou por me atormentar, e quando procurei teus traços onde meus braços abrigavam um rosto adormecido, eu tampouco pude montar tuas feições. E quando delas recordei, a imagem inexata de como eras, acho que turva e inexpressiva, parecia dizer para mim que agora haviam lágrimas de lâmina cega. Ferindo o imenso orgulho que tanto afogaste por mim. Amontoando ódio que jamais imaginei, você, poderia possuir. Havia uma música estreita e nostálgica. Era a voz cálida que cantava alheia de sentimentos por você, palavras que nos descreveriam tão bem. Então, era por isso que você tanto chorava? Gostaria de saber se ainda há a conexão entre nossas almas. Se todos esses momentos repentinos de infelicidade instantânea não passam de mensagens tuas que você jamais se permitiria mandar se pudesse. Se soubesse o que sinto, e o quanto eu pressinto. Talvez assim você me fosse verdadeiro. Talve me permitisse acalantar a sua dor que ironicamente sou eu que causo. Talvez assim, eu o curasse como você me curou. Estando longe e irresoluto. Preparando-se no escuro do que você sonhou. Trancado nas paredes desbotadas onde fizemos amor. Eu espero jamais vê-lo como minha imaginação o pintou. Parece hipocrisia mas o alívio falso que sinto quando dizes estar ótimo, acaba por me convencer de que suas palavras nem sempre são mentiras sarcásticas que você se permite conter. E ainda assim, aquele momento de desprazer me fez por alguns instantes voltar, como antes, a amar você. Não o que eras, ou as coisas que fazia, ou mesmo sua voz. Mas sim aquilo tudo que sentia por ti e ainda sinto, aquele segundo coração que criei para que jamais saísse de mim por completo, levando o corpo, talvez, mas me deixando o espírito do que fomos.

sábado, 26 de março de 2011

Eu não sei dizer se o apaixonei por mim por capricho e, no entanto ele inocentemente me apaixonara. Ou se minhas inúmeras explicações chegarão a tocar a possibilidade ínfima que nos define. Tão diferente do que sou e quero e ainda assim perfeito quando o vejo. Ah, meu desejo de partir simplesmente tomando forma e se aproximando das despedidas. Até que eu o veja e o desejo se esvaia. E eu nem mesmo queira ir para casa. Quantos mundos paralelos nos separam meu amor? Além dos sons que te definem. Além dos passos que nos afastam. Além do medo e do receio nefasto. Quantas coisas em mim você ama? Serão todas elas “eu”? mesmo que não digas nada sentimental e profundo. mesmo que eu não saiba definir em ti o que apreciei tanto. Mais impressionante do que sentir algo que não se esperava nunca mais desfrutar, é essa sensação inconstante de coisa nova, de sonhos soltos,e grandes, grandes medos. A vontade de estar é tão grande quanto a de partir. Basta ter experimentado uma única vez o sentimento de deixar. Mas mesmo o medo de perder traz gostos doces à garganta seca. Mesmo com a perda. Melhor do que não amar, já dizia o poeta. E embora eu eventualmente o faça sofrer, ficando ou indo, que isso fique claro pois é quase certo que acontecerá, eu jamais poderia dizer que me arrependo. Nem dos beijos ternos ou dos abraços incertos ou mesmo os momentos confusos de conversas sérias. Ou o compromisso inesperado e os atos impensados de possíveis conseqüências importantíssimas. Não me arrependerei de ti.

A Cura

O impulso. Os medos que não possuímos. A vontade. O carnal. O mistério que o desconhecido proporciona. Os lugares que tampouco conheço ou me conhecem não importando se mudam ou se mudarei. E as palavras enferrujadas nas quais me aprisiono. Descobri, me libertei das convenções. E talvez seja tão egoísta quanto achei ter deixado de ser. Ou mais.
Eu não me importo com o futuro. Eu o planejo meticulosamente para que possa estraçalhá-lo com minhas inconseqüências banais. Eu disse a mim mesma, que arrependimentos não são tangíveis possibilidades de cura. E eu não me concerto com a culpa. Talvez não a sinta. Não sei dizer. São mais seus olhares que as sentem por mim, devo aferir. Notei a vida é curta, e mais importante que a brevidade, notei, ela é minha. Meu órgãos. Minhas mãos. Minha mente. Minha loucura.
Por vezes eu machucarei a todos. E posso me desculpar. Não me arrependo no entanto do que quer que os tenha feito sangrar. Sim, eu lhes disse, há mais no homem do que maldade pura. Mas há mais em mim do que a coisa certa e as palavras tortas que digo para os feridos. E para ninguém. Minha consciência tomou pra si as lições que ainda não vivi. E eu vi minha mãe sorrir e dizer que nunca mais amaria. Parece incerto que eu lhes diga, mas amei mais do que poderia gostar de admitir a ela. Eu perdi tanto quanto, em menos dias. Eu aprendi aquilo que me libertou tão cedo, cedo em demasia. E não me faltaram alegrias. Por mais que sinta, me faltaram lágrimas.
Há o que se faz e o que se diz. E em todas as vezes que eu me calar, dentro de mim nada vai gritar. Sim, eu sangro. Eu amo ainda. Mas não mais serei aquela coisa sua que não era minha. Aquilo que por alguém vivia. E por isso, eu lamento. Não por alguém, devo admitir. Embora eu os faça sorrir, e não queira vê-los sofrer. Eu lamento saber. Saber o quão de mim deixei de ser sem perceber. E o quanto isso me tornou quem sou. Lamento embora não me desagrade. Apaixonei-me pelo que posso. E o que tenho não me seduz tanto quanto. O coração e sua simbologia exagerada tomaram o devido lugar reservado na racionalidade exacerbada. E para cada movimento seu. Para cada palavra sua. Eu terei a resposta exata. E a motivação contrária.
Sim, egoísmo em sua máxima, mas o que poderia eu dizer nessas palavras minhas onde sou para mim o que sou dentro de mim, embora tampouco me conheça por completo? Eu não sou hipócrita. Idiota, talvez. Mas isso quem define são os mesmos olhos que tomam para si a culpa que não possuo. Que me tiram as desagradáveis palavras de consolo e desculpas ínfimas. O que não pode mudar. O que não pode deixar de ser feito. O que eu diria em todas as vezes que voltasse para me corrigir. Pois eis que há vida dentro de mim. E não há vazio ou situação socialmente abalável que me convença a regressar. Eu estou onde deveria estar. E todas as vezes que voltar a ver-me, saberei, não me desagrada o que fiz ou o que deixei. E mesmo que você sangre no processo, espero que aprenda, fácil ou arduamente, assim como aprendi, que a cura não está na culpa. No remorso. Nos destroços. Ou no arrependimento. A cura, só existe e há, dentro de si.

terça-feira, 22 de março de 2011

Seja Humano!


Quando lhe confrontarem dizendo coisas do tipo: ‘como é que uma pessoa como você se descontrola desse jeito a ponto de gritar e brigar, de mentir, de errar, de ter mais dúvidas do que certezas, de ser inseguro, de chorar e ser tantas vezes fraco?’ Não deixe barato não! Acrescente a dor da ressaca depois de um porre, diga que você só passou na faculdade porque colou no exame final; e aquela vez que você quis impressionar alguém e deu tudo errado; conte também que tem vergonha que descubram que você trocou aquele bar de jazz ao vivo, culto e chato, por uma boate de música ordinária; afirme também que as vezes mente, tenta parecer o que não é, que mostrou ter entendido a palestra sobre eticidade na qual dormiu após conferir a própria ignorância; não esqueça de se dizer contraditório, humano, perfeito e imperfeito, bom e mau, certo e errado; mostre que você ama e que pode odiar com a mesma intensidade; manifesta a sua raiva quando é magoado maldosamente; diga que pensa em vingança, em coisas medíocres como revanchismo. Seja, por favor, completamente HUMANO.

Contrários


Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar
Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo pra lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer
Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E que o ódio é uma forma tão estranha de amar
Que o perto tem distâncias
Que esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz
Só quem soube duvidar
Pôde enfim acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar
Quem no pouco encontrou
Aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar
Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor
Se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite
Que o amor pode nascer
Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E que o ódio é uma forma tão estranha de amar
Que o perto tem distâncias
Que esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz

“Amar não é desejar o próximo como a si mesmo. É fazer do amado o primeiro e de si o próximo”.

Ao ler essa frase de um poema pouco conhecido, questionei-me: Quantas vezes fazemos de nós o próximo e do amado o primeiro? Falo de todos os tipos de amor. Pense bem. Pensou? Chegou a alguma resposta plausível? Difícil não é? É, somente quando fazemos questionamentos como este é que percebemos o quanto o ser humano é egoísta. Queremos ser felizes, realizados, compreendidos, aceitos, amados. Viu só. É sempre essa via unilateral, é sempre o “Eu” em primeiro lugar, o outro é segundo plano. Calma, não se assuste e nem se condene, isso é normal ou pelo menos achamos que é. Doar-se ao outro verdadeiramente não é tarefa fácil. É preciso uma pré disposição de ambas as partes. Mais espera um pouco… você deve estar se perguntando ‘quem ela acha que é para falar isso de algo tão particular?’ Eu lhe respondo: não sou ninguém realmente. Não escrevo a verdade, tão pouco a tenho. Apenas expresso nestas linhas o que penso e a forma como eu penso. Quem entender essas palavras será sempre bem vindo a comentá-las, mas se você as considera apenas palavras sem sentido, bem com certeza não é para você que eu escrevo.

O Tempo da Paciência


Tempo… aliado nas grandes conquistas, aliado para aliviar grandes dores. Paciência… tens que tê-la para ter tudo que almeja. Neste tempo que tive aprendi a desenvolver a tal paciência, coisa que eu era totalmente desprovida! Lancei mão de um grande amor neste espaço, porque minha nova virtude chamada paciência esgotou. Vi que os fatos falavam mais alto do que minha razão. O amor, ah, o amor. Palavra pequena, mas para quem realmente sente há um grande teor. É um Eu te amo pra cá, um Eu te amo pra lá e você vai deixando a sua vida e sem perceber começa a viver aquela vida a dois. Esquece um pouco de você mesmo mas tudo bem, dizem que no amor e na guerra tudo vale a pena, não é? Neste momento, eu juntamente com minha alma e meu coração estamos em reconstrução. Reconstruindo conceitos de amor próprio, de como ver a vida. Meu amor por ter-se perdido e minha alma por ter-se doado, chora. Mas como dizia o sábio poeta: “Às vezes construímos grandes sonhos em cima de grandes pessoas, mais tarde descobrimos que grandes eram os sonhos e não as pessoas”. Pois bem, eis que está na hora de voltar a olhar para dentro, ver o que há escondido. Qualidades, sentimentos, virtudes antes abafados por um “não poder” ou talvez um “não querer”. Mas nada que eles, o tempo e a paciência não curem, não mudem. E disso venha a tona uma nova mulher mais forte ainda como jamais fui. Afinal, como disse o filósofo Friedrich Nietzsche: “O que não provoca minha morte me deixa mais forte”.

Sinceramente


Impossível acreditar que te perdi. A sensação de que a qualquer momento vou ver você chegar ainda toma conta de mim. Dói tanto não ter você por perto. Dói não ver o seu sorriso. Dói não ouvir o som da sua voz que apesar de fraca e rouca, soavam com uma força extrema alcançando meu coração. Dói não ver mais seus lindos olhos, ah e que olhos lindos você tinha. A cada minuto penso que posso te encontrar, mais basta um segundo para a realidade me passar uma rasteira me convencendo de que minha vontade não se concretizará. Ah! Como dói perder alguém que tanto amamos. Apesar de saber que o seu destino estava fadado quis acreditar e acreditei inúmeras vezes que poderíamos trair o destino e mudar o curso incerto da vida. Que ilusão! Hoje tenho que viver com a certeza de que não importa para onde eu fuja, para onde eu corra, não te encontrarei com os braços abertos e um sorriso no rosto a me esperar… mais sei que posso te sentir a me abraçar nos meus sonhos, nos meus pensamentos e no meu coração. Lugares estes que você sempre estará

Loucos e Santos


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.Tem que ter um brilho questionador e uma tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louca e santa. Deles não quero respostas, quero o meu avesso. Quero que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim e para isso, só sendo um louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta, principalmente por esta última. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Os quero metade infância e outra metade velhice! Sim, crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.